Da Periferia aos Desafios do Ensino Superior

domingo, 17 de agosto de 2014

A POLÍTICA PÚBLICA DO PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS (PROUNI) NA FORMAÇÃO DA CLASSE C

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Faculdade de Ciências Sociais










A POLÍTICA PÚBLICA DO PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS (PROUNI) NA FORMAÇÃO DA CLASSE C












São Paulo
2012
Jefferson Paiva








A POLÍTICA PÚBLICA DO PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS (PROUNI) NA FORMAÇÃO DA CLASSE C











Trabalho de conclusão do curso da graduação
de Ciências Sociais da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
sob orientação da professora doutora
Rosemary Segurado










            PAIVA, Jefferson
A Política Pública do Programa Universidade Para Todos (PROUNI) na Formação da Classe C, São Paulo, SP: [s.n.], 2012.

            Orientadora: Rosemary Segurado
            Co-Orientadora: Silvana Tótora
            Trabalho de Conclusão de Curso (graduação).
            Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
            Faculdade de Ciências Sociais.

1. Política Pública 2. PROUNI 3. Classe C 4. Educação. I. Segurado, Rosemary II. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Faculdade de Ciências Sociais. III. Título.


Eu dedico esta obra aos dois anjos que chamo com tanta alegria de pai e mãe, Odilon e Terezinha.
À minha amada mãe que tanto roga por mim. Sou fruto de seu ventre, e por ti meu amor é imensurável.
Ao meu amado pai, homem trabalhador, ao qual o exemplo seguirei. Dos teus dizeres “trabalhar, trabalhar, trabalhar, estudar, estudar, estudar e rezar, rezar, rezar”, jamais esquecerei.
Meus queridos papai e mamãe tenham a certeza de que muitas dificuldades ainda virão, porém quero dizer que lutarei para fazê-los felizes e se orgulharem do homem que me tornei, mas que será para sempre o menino de vocês.

Obrigado, amo vocês!







AGRADECIMENTOS



Agradeço acima de tudo a Deus por nunca me abandonar e sempre guiar os meus passos para o melhor caminho.

À Professora Rosemary Segurado que aceitou de imediato ser minha orientadora, e me guiou de forma serena, transmitindo uma enorme segurança e tranquilidade para que eu pudesse caminhar. Muito Obrigado!

Também, à professora Silvana Tótora que me auxiliou neste último e principal ano para a elaboração desta pesquisa.

Ao grande amigo Raphael Calmeto, junto do qual após mais uma entre tantas conversas, surgiu de pesquisar o tema  classe C e contribuiu para aperfeiçoá-la.

À grande amiga e companheira Susan Ferreira, que ajudou a aperfeiçoar esta pesquisa, teve paciência para ouvir inúmeras vezes sobre a classe C e deu-me os carinhos que eu tanto precisava nos momentos difíceis.

Aos amigos Andrew Souza e Ana Carolina Arakelian, com os quais passei diversos momentos, ao longo desta caminhada de quatro anos. Levarei esta amizade adiante.

Aos estudantes beneficiados pelo ProUni que contribuíram com a pesquisa.

Ao grupo ProUni-Se!, com destaque para Ricardo Vidal e Larissa Rocha que desde quando conheci o grupo deram apoio e demonstraram interesse pela pesquisa.

Aos inúmeros amigos que ao longo desta jornada passaram por minha vida, que fizeram e fazem a diferença nos melhores e piores momentos.



“Não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui, o verdadeiro valor do homem é o seu caráter, suas ideias e a nobreza dos seus ideais.”

Charles Chaplin

RESUMO


Esta pesquisa tem por objetivo analisar a ascensão da classe C - que não são pessoas extremamente pobres, muito menos ricas - através da educação, com foco voltado para o Programa Universidade para Todos - ProUni. Este programa de política social que tem proporcionado aos jovens de baixa renda o ingresso à universidade. Mas, quanto o ProUni teve influência na ascensão da classe C?
A conciliação dos temas busca identificar suas possíveis relações e contraposições. Para isso, construo o caminho pela fundamentação dos conceitos existentes na atualidade sobre classes sociais, as características da classe C ligadas a educação e o quanto isso é importante na formação e ascensão do indivíduo que compõe a classe C.
Para sustentar os dados desta pesquisa e comprovar minhas indagações, realizei uma entrevista de Grupo Focal com alunos beneficiados com a bolsa do ProUni na PUC-SP, utilizando perguntas abertas através de uma conversa para dar voz aos jovens que vieram de famílias de baixa renda e que enfrentam árduos desafios para conseguir o tão sonhado diploma de ensino superior e a possibilidade de ascensão social.



ABSTRACT


This research aims to analyze the rise of class C - that is not extremely poor, much less rich - through education, focusing at the University for All Program - ProUni. This social policy program that has provided to the low-income youth an admission to university. Although, how much  the ProUni has influenced in the rise of class C?

The union of these themes aims to identify their possible relationships and conflicts. For this, I will bring substantiation of current concepts about social classes, characteristics of class C associated with education and how it is important in the formation of the individual that comprises the class C.

To support the research and prove my questions, I interviewed some beneficiaries students of ProUni’s scholarship at PUC-SP through  Focus Group. I did open questions through a conversation to give voice to young people who had come from low-income families, facing hard challenges to reach the dream of higher education diploma and the possibility of social mobility.

  
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS


ABEP - Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa
CCEB - Critério de Classificação Econômica Brasil
CONFINS - Contribuição para o Programa de Integração Social
ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio
FIES – Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais
PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação
Programa de Integração Social – PIS
PUC - Pontifícia Universidade Católica
PROUNI – Programa Universidade para todos
SAE - Secretaria de Assuntos Estratégicos


            SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................11

CAPÍTULO I – OS CONCEITOS DE CLASSE SOCIAL..................... 13
1.1  Definindo classe social na atualidade.....................................................13
1.2  Caracterização da Classe C................................................................. 17


CAPÍTULO II - A EDUCAÇÃO COMO VIA DE ASCENSÃO SOCIAL....................................................................................................... 20
2.1  A classe C e a educação ....................................................................... 20
2.2  Educação era coisa de elite..................................................................... 21
2.3  O ProUni como oportunidade de acesso ao ensino superior..................... 23

CAPÍTULO III – A VOZ DO PROUNI......................................................... 26
3.1 – Definindo o objeto da entrevista................................................................ 26
3.2 – Análise da Entrevista................................................................................. 27

CONCLUSÃO ............................................................................................... 32

BIBLIOGRAFIA............................................................................................ 33



INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o Brasil viveu um período de estabilidade econômica, obtendo índices de crescimento e diminuição do desemprego. Além do aumento das políticas sociais, como o Bolsa Família, Luz para Todos e o ProUni. Paralelamente, surgiu o termo “nova classe média”, ou classe C, que não são extremamente pobres, muito menos ricos. Mas, o que será esta classe C ou “nova classe média”?
Definir classe social na atualidade é de uma enorme complexidade, ainda mais com relação ao Brasil, país que sofre com tanta desigualdade e que necessita de um olhar apurado para encontrar as mobilidades sociais que ocorrem. Para responder o que é esta classe C, busco os conceitos de classes marxista e weberiano, que logo se demonstram insuficientes para responder as indagações.
A formação de ensino superior sempre foi um privilégio para as elites desde o Brasil colônia. Mas, as políticas sociais criadas para atender as famílias de baixa renda, como por exemplo, o Programa Universidade para Todos (ProUni) possibilitaram a entrada de jovens de baixa renda ao ensino superior, muitas vezes em universidades consideradas de elite, como a PUC-SP.
Então, resolvi conciliar os temas, classe C e ProUni, para identificar suas relações e contraposições. Quanto o ProUni teve influência na ascensão da classe C? Para isso, construo o caminho pela fundamentação dos conceitos existentes na atualidade sobre classes sociais. Tendo como base obras contemporâneas sobre a classe C, ou “nova classe média”, de autores, como Bolívar Lamounier, Jessé Souza, Marcelo Neri e Márcio Pochmann, busco identificar por essas obras as caraterísticas da classe C ligadas a educação e o quanto isso é importante na formação e ascensão do indivíduo que compõe a classe C.
Nesta pesquisa, primeiramente faço uma análise buscando definir o conceito de classe social na atualidade perpassando autores clássicos como Weber e Marx, e autores contemporâneos que se aproximam mais da realidade da classe C no Brasil. Tendo definido a melhor conceituação, busco elucidar as características do indivíduo que compõe a classe C tendo como foco a importância da educação no seu processo de formação.

O capítulo: Educação como via de ascensão social, é um ponto de grande relevância desta pesquisa, pois demonstra a importância da educação para os membros da classe C. Também como a formação superior era algo apenas voltado para as elites brasileiras e hoje, com a política pública do ProUni, os jovens de baixa renda possuem um via de acesso para entrar no ensino superior e ter a  possibilidade de ascensão social.
Para sustentar os dados desta pesquisa e comprovar minhas indagações, realizei uma entrevista de Grupo Focal com alunos beneficiados com a bolsa do ProUni na PUC-SP. Utilizando perguntas abertas através de uma conversa para dar voz aos jovens que vieram de famílias de baixa renda e que enfrentam árduos desafios para conseguir o tão sonhado diploma de ensino superior e a possibilidade de ascensão social.

CAPÍTULO I - OS CONCEITOS DE CLASSE SOCIAL

1.1  - Definindo classe social na atualidade
Definir classe social, ou determinar uma pessoa dentro de um grupo social não é tarefa fácil. “As inconsistências encontradas são naturais, pois, o critério de auto-identificação de classe é subjetivo e, como tal, sujeito à ação de múltiplos fatores.” (LAMOUNIER, 2010, p.21)
Para Lamounier (2010, p. 13):
Em sociologia existem, pelo menos, dois conceitos polares de classe social. Num extremo, o conceito derivado da tradição marxista faz referência a um grupo estruturalmente bem delimitado, consciente de si e dotado de estilos de vida, padrões de comportamento e projetos de sociedade diferenciados em relação a grupos similares, ou seja, as demais classes.
Na vertente oposta, a tradição weberiana atém-se as características objetivamente mensuráveis, como a educação, a renda e a ocupação, entendidas como atributos individuais, deixando em suspenso à questão da ‘consciência de classe’.
O fenômeno de classe social no sentido marxista dificilmente se configura no mundo atual, caracterizado, principalmente, pelas sociedades de massa. A contraposição dessas duas visões sugere que o mais comum é a sobreposição de camadas ou estratos identificáveis apenas em termos estatísticos.
Não existe um conceito mundial para medir e definir classe social na atualidade. No Brasil, existem três critérios que são mais utilizados para tentar definir a divisão social: a renda per capita, o salário mínimo e o critério Brasil.
Sobre a renda per capita Marcelo Neri (2008, p.11) dirá:
O conceito mais adequado para auferir o nível de pobreza seria a renda domiciliar per capita dos indivíduos, que corresponde à soma da renda de todas as pessoas dos domicílios dividida pelo número total de moradores. Similarmente, quando queremos quantificar a extensão da chamada classe média para, por exemplo, avaliar o poder de compra de bens familiares tais como a casa própria, o conceito adequado é a renda total auferida por todos os membros do domicílio.
            A tabela a seguir é utilizada pela Secretaria de Assuntos Estratégicos - SAE, onde estão divididas as classes sociais. Eles dividiram a população brasileira em uma escala de um a cem, depois reuniram essa população em três grandes grupos homogêneos, segundo o critério de vulnerabilidade, com relação à renda familiar per capita para chegarem à definição do que é a nova classe média brasileira.
Tabela 1 – Classes e renda per capita[1]
Alta classe alta
Mais de R$ 2.480
Baixa classe alta
R$ 1.019 e R$ 2.480
Classe média alta
R$ 641 a R$ 1.019
Classe média
R$ 441 a R$ 641
Baixa classe média
R$ 291 a R$ 441
Vulnerável
R$ 291 e R$ 441
Pobre mas não extremamente pobre
R$ 162 e R$ 291
Extremamente pobre
R$ 0,00 até R$ 81,00

O conceito de renda per capita é o mais utilizado por institutos de pesquisa, pois, a soma da renda de um domicílio, dividido por seus integrantes, assim se aproxima da realidade no sentido de valor monetário, ou poder de compra. Mas, não levam em consideração as despensas que existem, reduzindo consideravelmente os valores de renda.
Sobre o salário mínimo, Marcelo Neri evita o uso de faixas de salário mínimo, comum na literatura brasileira, por algumas razões: o poder de compra do salário mínimo tem mudado sistematicamente ao longo do tempo e o uso do salário mínimo como numerário falha em manter constante o poder de compra ao longo do tempo, que seria uma motivação inicial para seu uso como linha absoluta de pobreza, além de não acompanhar o custo de vida regional.[2]
Já o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) ou Critério Brasil, desenvolvido pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa - ABEP, é um instrumento de segmentação econômica que utiliza o levantamento de características domiciliares (presença e quantidade de alguns itens domiciliares de conforto e grau escolaridade do chefe de família) para diferenciar a população. O critério atribui pontos em função de cada característica domiciliar e realiza a soma destes pontos. É feita, então, uma correspondência entre faixas de pontuação do critério e estratos de classificação econômica definidos por A1, A2, B1, B2, C1, C2, D, E[3]

Tabela 2 – Critério de pontuação por classes econômicas[4]
Classe Econômica
Pontos
A1
42 - 46
A2
35 – 41
B1
29 – 34
B2
23 – 28
C1
18 - 22
C2
14 – 17
D
8 – 13
E
0 – 7








Apesar de sua importância, as categorias e os conceitos utilizados para pensar um mundo que se transforma tão rapidamente, não o explicam mais. Pois, simplesmente “associar classe à renda é ‘falar’ de classes esquecendo-se de todo o processo de transmissão afetiva e emocional de valores.” (SOUZA, 2010, p. 47)
Para Souza (2010, p. 46) “O marxismo, e não apenas nossos liberais conservadores, tem extraordinária dificuldade de compreender a nova classe que se constitui entre nós”.
A definição de classes de Jessé Souza é a que melhor se configura para a atual sociedade: “Classes sociais não são determinadas pela renda – como para os liberais – nem pelo simples lugar na produção – como para o marxismo clássico -, mas sim por uma visão de mundo prática que se mostra em todos os comportamentos e atitudes”. (SOUZA, 2010, p. 45) A “prática”, dita por Jessé Souza, está presente no cotidiano dos brasileiros que são enquadrados na “nova classe média”.
Marcelo Neri esclarece a origem da denominação “nova classe média”. “A ‘nova classe média’ foi o apelido que demos à classe C há anos. Chamar a pessoa de classe C soava depreciativo, pior do que classe A ou B.” (NERI, 2011, p. 18)
Souza (2010) dirá:
O fato é que acreditamos estar diante de um fenômeno social e político novo e muito pouco compreendido, pelos motivos já explicitados, seja pelos conservadores, seja até pelos mais críticos entre nós: o da constituição não de uma “nova classe média”, mas sim de uma ‘nova classe trabalhadora’.
A nova classe trabalhadora não participa desse jogo de distinção, que caracteriza as classes alta e média. Não possui acesso privilegiado, lutam para conseguir uma melhor vida dentro das 24 horas que compõem o dia. E mesmo ascendendo economicamente, ela não se muda de bairro, permanecendo no mesmo lugar onde tem amigos e parentes, demonstrando ser comunitário e não individualista. Essa classe que conseguiu seu lugar ao sol por extraordinário esforço, sua capacidade de resistir ao cansaço de vários empregos e turnos de trabalho, à dupla jornada de trabalhar e estudar, sua extraordinária capacidade de poupança e tão ou mais importante, uma enorme crença em si mesmo e no próprio trabalho, que transmite exemplos e valores para seus filhos. [5]

1.      2 - Caracterização da classe C
Como explicitado anteriormente, definir classe social na atualidade depende de diversos fatores de análise. E buscar caracterizar um grupo da camada social aumenta a complexidade. Como podemos definir a classe C? Pois, não são extremamente pobres, muito menos ricos.
No Brasil, são, pelo menos, 30 milhões de brasileiros que adentraram a classe C, mudando a base da pirâmide econômica, que era formada em sua maioria pelas classes D e E - 19 milhões somente em 2011 - o que representa 53% da população brasileira[6], transmitindo autoconfiança por sua grande participação no mercado de consumo e mudando a agenda de discussão sobre classe social no país.
Gráfico 1 – Evolução da classe C (%)[7]

No gráfico apresentado acima, podemos verificar a evolução da classe C desde 1992, quando compunha 32,52% da população brasileira e em 2011 chegando a 55,05%. Assim, a classe C assume um lugar de destaque no cenário econômico e social no Brasil.
Esta classe C que não pára de crescer, seja pela economia ou pelo próprio esforço, está  ganhando cada vez mais espaço na mídia com conteúdos voltados para este público, na política, onde já houve embate de lideranças partidárias sobre o tema e, ainda mais, na economia, onde representa um grande mercado consumidor.
Tendo em vista esse crescimento, Lamounier recorreu a um método clássico das pesquisas de opinião para explorar como as pessoas se identificam em relação à classe social.
Gráfico 2 – Identidade de Classe – “A que classe social pertence?”[8]

Como mostra o Gráfico 1, podemos verificar que os entrevistados ao serem perguntados “A que classe social pertence?” se identificam de forma espontânea com a classe baixa, e quando estimulados, se identificam com a classe trabalhadora. Comprovando a afirmação de Jessé Souza, de que não existe uma “nova classe média”, mas sim uma “nova classe trabalhadora”.
No entanto, mesmo que não se identifiquem como classe média, em termos de renda, a classe C aufere em média a renda média da sociedade, ou seja, é a classe média no sentido estatístico. (NERI, 2001)
Pochmann (2012, p.10) diz que, seja pelo nível de rendimento, pelo tipo de ocupação, ou pelo perfil e atributos pessoais, o grosso da população emergente não se encaixa em critérios sérios e objetivos que possam ser claramente identificados como classe média.
Jessé Souza identifica o invisível, pelo qual a classe C não se encaixa, em critérios de avaliação, a resposta está na Herança imaterial[9] e no Capital familiar.[10] Onde se encontram a transmissão de valores familiares, comportamento na sociedade e trabalho duro, fatores esses que não podem ser medidos.
Pela via do trabalho que se impõe desde cedo, muitas vezes, paralelamente ao estudo, os trabalhadores que formam a classe C conseguiram seu lugar ao sol através de enorme esforço, resistindo ao cansaço de vários empregos e turnos de trabalho, à dupla jornada de trabalho e estudo e através da capacidade de economizar.
Pochmann (2012) afirma:
Mesmo com o contido nível educacional e a limitada experiência profissional, as novas ocupações de serviços, absorvedoras de enormes massas humanas resgatadas da condição de pobreza, permitem inegável ascensão social, embora ainda distante de qualquer configuração que não a de classe trabalhadora.
A educação é ponto importante na transferência da herança imaterial com o capital familiar, pois, os pais investem na educação dos filhos para obterem uma maior oportunidade de ascensão social com menor esforço de trabalho. E, mesmo aqueles que não possuem recursos financeiros procuram estimular os filhos para seguirem pelo caminho da educação e procurarem uma formação, seja técnica, superior ou de língua estrangeira.

CAPÍTULO II - A EDUCAÇÃO COMO VIA DE ASCENSÃO SOCIAL
2.1 – A classe C e a educação
A educação é vista como um dos principais fatores de ascensão social e afeta a vida de muitas pessoas. Em torno de 97% da população considera que uma boa educação é fator “essencial” ou “muito importante” para vencer na vida.[11] E vencer na vida é o foco principal dos trabalhadores da classe C, logo, o caminho fica mais fácil pela educação. Por isto, os pais trabalham arduamente investindo na formação dos filhos, tendo como maior objetivo o ensino superior.
O ensino superior é a meta ambicionada por todas as classes sociais, como mostra o gráfico abaixo:
Gráfico 3 – Aspirações Educacionais (Percentagem que deseja que os filhos tenham o nível de educação abaixo)[12]
Porém, chegar ao ensino superior para a classe C não era algo fácil até a criação do ProUni (Programa Universidade para Todos). Este programa possibilitou a entrada de jovens de baixa renda ao ensino superior, permitindo um maior grau de formação. Dentre os novos membros da classe C, aqueles que entram no ensino superior são, na maioria das vezes, os primeiros membros da família a chegar à universidade. Isto significa que, há maiores diferenças de escolaridade entre gerações, sendo os pais mais educados que os avós e menos que os filhos.[13]
Renato Meirelles, especialista do Instituto Data Popular, afirma:
Esse estudante, cujos pais têm pouca educação e pouca perspectiva de ascensão social, que é o primeiro membro da família a chegar à universidade, cujos estudos exigem, muitas vezes, um sacrifício enorme da família inteira, não vai perder essa oportunidade que apareceu de jeito nenhum. [14]
            Obtendo uma educação mais elevada, aumentam as oportunidades no mercado de trabalho. Os salários dos universitários é 540% superior ao dos analfabetos e a chance de ocupação 308% maior. E o ganho em média de salário é de 15% adicional por ano completo de estudo, mas no primeiro ano da pós-graduação esse ganho corresponde a 42%. [15] Para os brasileiros, o diploma universitário representa o símbolo e o instrumento de ascensão social, configurando uma expectativa concreta de aumento substancial da renda.
Entretanto, chegar ao ensino superior não quer dizer o fim dos problemas e a imediata ascensão social, pois, os jovens da classe C que adentram a universidade carregam deficiências devido à precariedade do sistema de ensino público, além das dificuldades familiares, ou seja, o ingresso no ensino superior é apenas o início de um desafio muito maior: o de  manter-se na faculdade.

2.2 – Educação era coisa de elite
Desde o Brasil-colônia, a educação era privilégio das elites. Os Jesuítas vieram ao Brasil com consentimento da metrópole portuguesa para catequisar os índios e escravos. O ensino que os padres jesuítas ministravam era completamente alheio à realidade da colônia. Era apenas o ensino da cultura geral básica, sem a preocupação de qualificar para o trabalho, não podia, por isso mesmo, contribuir para modificações estruturais na vida social e econômica do Brasil. As atividades de produção não exigiam preparo, então a educação foi sendo deixada à margem, sem utilidade prática visível para uma economia fundamentada na agricultura rudimentar e no trabalho escravo. (ROMANELLI, 2006. P. 34)
Com a chegada de D. João no Brasil, houve mudanças educacionais como a criação de escolas militares e de faculdades de medicina e arquitetura.  
Romanelli (2006, p. 38):
O aspecto de maior relevância dessas iniciativas foi o fato de terem sido levadas a cabo, com o propósito exclusivo de proporcionar educação para uma elite aristocrática e nobre de que se compunha a Corte. A preocupação exclusiva com a criação de ensino superior e o abandono total em que ficaram os demais níveis do ensino demonstram claramente esse objetivo, com o que se acentuou uma tradição - que vinha da Colônia – a tradição da educação aristocrática.
No período da República, a Constituição de 1891 - que instituiu o sistema federativo de governo - consagrou também a descentralização do ensino, reservando à União o direito de criar instituições de ensino superior e secundário nos estados, o que, consequentemente, delegava aos Estados competência para prover e legislar sobre a educação primária. Era, portanto, a consagração do sistema dual de ensino, que se vinha mantendo desde o Império. Era também uma forma de oficialização da distância que se mostrava, na prática, entre a educação da classe dominante (escolas secundárias acadêmicas e escolas superiores) e a educação do povo (escola primária e escola profissional). (ROMANELLI, 2006, p. 41)
Com o fim do período da República e o advento do Estado Novo, o governo do Presidente Vargas, “tratou de organizar a educação de cima para baixo, mas sem envolver uma grande mobilização da sociedade; sem promover também uma formação escolar totalitária que abrangesse todos os aspectos do universo cultural.” (FAUSTO, 2003. P. 337)
Embora o ensino superior seja uma aspiração universal, é nas famílias de nível educacional mais alto que ela parece ter real probabilidade de se materializar. Entretanto, este tabu está enfraquecido, pois, com as políticas públicas dos últimos anos os estudantes de baixa renda estão tendo maior oportunidade de qualificação.

2.3 – O ProUni como oportunidade de acesso ao ensino superior
            O debate acerca das necessidades de reformas na educação superior sempre permeou as políticas públicas de educação no Brasil. Após debates na sociedade brasileira iniciados em 1996, o Congresso Nacional aprovou em 2001 a lei do Plano Nacional de Educação – PNE. Tendo meta estabelecida em 10 anos para implementação das ações. E, com destaque para a meta de “prover até o final da década, a oferta de Educação Superior para, pelo menos, 30% da faixa de 18 a 24 anos”.
É a partir de 2002, com a entrada do Presidente Lula ao governo, que começaram de forma concreta as discussões para o desenvolvimento do ensino superior. No programa “Uma Escola do tamanho do Brasil”, coordenado pelo Professor Newton Lima Neto, são apresentadas uma série de propostas para a educação no Brasil e também identificada a necessidade de expansão do ensino superior para atender a demanda crescente de vagas.
Em 2007, é lançado o PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação – com a função de desenvolver a educação a partir da junção de leis, portarias, programas e novos projetos a educação do Brasil.
Dentre as propostas ajuntadas ao PDE para o ensino superior está o Programa Universidade para Todos (PROUNI). Pela Medida Provisória n° 213 de 10 de setembro de 2004 e depois regulamentada pela Lei 11.096 de 13 de janeiro de 2005[16], o PROUNI tem como proposta democratizar o acesso à educação superior e investir na qualidade do ensino, através de concessão de bolsas de estudo integral e parcial.
As instituições de ensino superior que aderem ao ProUni ficam isentas do pagamento de Imposto de Renda para Pessoa Jurídica, da contribuição social sobre lucro líquido, do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Programa de Integração Social (CONFINS).
As bolsas integrais são para estudantes com renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio, e as parciais, de 50%, para aqueles com renda familiar de até três salários mínimos per capita.  São beneficiados pelo ProUni os estudantes da rede pública de ensino e professores da rede pública que não possuem curso superior.[17] Os jovens que se enquadram dentro dessas regras são, em sua maioria, pertencentes à classe C que não possuem condições de pagar uma universidade privada, mas pela via de programas de bolsas tem seu acesso facilitado. Desde a criação do ProUni, o número de bolsas vem aumentando, sendo que de 2005 à 2012, esse número mais que dobrou.

Gráfico 4 – Bolsas ofertadas por ano[18]

Do total de bolsas ofertadas, 51% estão disponíveis na região sudeste, com destaque para São Paulo e Minas Gerais e a região norte fica com a menor porcentagem, 5%.[19]
Outro dado do Prouni é em relação ao sexo, pois, a presença feminina é maior do que a masculina, sendo 52% contra 48%.[20]
 O pré-requisito para conseguir uma bolsa é participar da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Acertando mais de 50% da prova o candidato terá direito a concorrer a uma bolsa na universidade privada e ao curso de sua escolha. Uma escolha que muda a vida do jovem e sua família.
Segundo dados do INEP, o número de inscritos no Enem na sua primeira edição em 1998 era de 157.221 inscritos. Em 2011, houve 6.221.697 inscritos.[21] Umas das razões para este crescimento é em função do exame ser utilizado como critério para a obtenção da bolsa do ProUni.
O programa tem atingido os seus objetivos, uma vez que, os grupos de renda que tiveram maior aumento da taxa de frequência no ensino superior privado foram justamente os que se situam na faixa de até 1,5 salário mínimo, para os quais é concedida bolsa de estudo integral. [22]

CAPÍTULO III - A VOZ DO PROUNI

3.1 – Definindo o objeto da entrevista
Neste capítulo darei voz aos jovens que pertencem às famílias que se enquadram nas características da classe C e ingressaram ao ensino superior através do ProUni. São alunos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, dos cursos de Direito, Ciências Sociais e Geografia.
Esses alunos beneficiados com a bolsa do ProUni na PUC/SP, participam do grupo ProUni-Se!, que defende os diretos dos bolsistas e auxilia os novos alunos em diversos problemas relacionados a bolsa.
O grupo se apresenta da seguinte forma:
O PROUNI-SE! é constituído por estudantes e ex-estudantes beneficiários do Programa Universidade Para Todos da área do Direito, Relações Internacionais, Psicologia, Geografia, Ciências Sociais, Jornalismo, dentre outros, que tem como objetivo, atuar ao longo da graduação construindo um espaço de discussão sobre a situação do aluno bolsista dentro da Universidade, promovendo debates, elucidando direitos, atividades pedagógicas, bem como, criando canais de comunicação entre os bolsistas. 
Com isso, queremos construir um grupo com todos os bolsistas, tanto em redes sociais, como também em grupos de estudos e de atividades, a fim de se construir uma relação entre os beneficiários que poderão divulgar as possíveis irregularidades que possam sofrer ao longo da graduação, tal como cancelamento de bolsa, impedimentos de qualquer gênero e discriminação. 
Se você é bolsista do ProUni, não fique sozinho, PROUNI-SE![23]

Para obter as opiniões dos alunos que participam do grupo, elaborei um questionário visando relacionar as caraterísticas classe C, a bolsa do ProUni e a PUC-SP.  Este questionário foi utilizado de forma qualitativa na entrevista de Grupo Focal realizado nas dependências da faculdade.

Por Grupo Focal, Neto (2002) definirá como:
[...] uma técnica de pesquisa na qual o pesquisador reúne, num mesmo local e durante certo período, uma determinada quantidade de pessoas que fazem parte do público-alvo de suas investigações, tendo como objetivo coletar, a partir do diálogo e do debate com e entre eles, informações acerca de um tema específico.
O questionário abaixo foi o utilizado na entrevista, buscando colher o máximo das opiniões dos entrevistados, para depois se identificar os principais pontos em comum nas respostas dos alunos.
1° Qual a formação dos seus pais? E o que dizem sobre a educação para você?
2° Qual foi a sua impressão ao começar as aulas na PUC-SP? E qual a atual?
3° O que mudou na sua vida com a entrada no ensino superior? O que mudou na relação familiar? E nas redes de mobilidades (amigos, vizinhos, trabalho)?
4° Como o ProUni pode diminuir a desigualdade entre os jovens?
5° Quais os motivos que levaram os alunos do ProUni a reivindicarem  representações e formar o ProUni-Se!?
6° Quais são seus projetos após terminar a faculdade?
Os cinco alunos participantes da entrevista divididos entre os cursos de Ciências Sociais, Direito e Geografia, não terão seus nomes identificados para manter o sigilo. Somente serão informados na análise, a primeira letra do nome, idade e o curso. A transcrição completa da entrevista encontra-se em anexo.

3.2 – Análise da Entrevista
A proposta de análise desta entrevista é encontrar pontos em comum a partir das opiniões dos entrevistados, buscando relacionar com a abordagem teórica descrita ao longo da pesquisa para confirmar a influência da educação e do ProUni na ascensão social da classe C.
O primeiro ponto em comum, encontrado no que foi dito pelos entrevistados, foi o da importância da educação para os pais, que estimulam os filhos a estudarem, pois não desejam que os filhos passem pelas mesmas dificuldades e buscam transmitir a herança imaterial e o capital familiar.
O discurso dele (pai) influenciou mais na minha formação do quê da minha mãe, dizendo que “você tem que estudar para se manter na vida, não precisando ser rico, mas ter o seu dinheiro para se sustentar, e não ter que passar necessidades”, coisas que ele já passou por não ter estudos e não gostaria que os filhos passassem por isso.  (L, 25 anos, Geografia)
A minha mãe conclui o ensino médio e trabalha em um hospital, onde entrou por um concurso, porém ganha pouco, mas sempre trabalhou bastante para que eu me mantivesse estudando, e quando terminei o ensino médio, ela me perguntou se eu queria me preparar para entrar na faculdade e durante um tempo pagou cursinho para mim. (...) O meu pai tem o superior completo, mas só o conheci quando tinha 13 anos, e a partir daí ele começou a acompanhar mais e me incentivou bastante. Ele tem uma história de vida sofrida, pois veio pra São Paulo quando jovem, e é pernambucano. Ele fez faculdade, mas foi entrar perto dos 30 anos, então ele sabe o quanto é difícil, pois ele pagou, e compreende a dificuldade para eu estar aqui, se manter estudando mesmo que não pague a mensalidade. (W, 23 anos, Direito)
Minha mãe sempre incentivou, ela tem ensino técnico de enfermagem, prestou concurso público e hoje é aposentada pelo estado. Ela sempre incentivou muito minhas irmãs e eu, olhando caderno, frequentando reuniões na escola. (D, 25 anos, Ciências Socias)
Os alunos beneficiados com a bolsa do ProUni vem de famílias de baixa renda, e quando chegam à universidade, ainda mais na PUC-SP, enfrentam o choque de realidades. Dentre estes choques, está a reação ao consumo de massa que estimula novas barreiras, materiais e simbólicas, valorizando-se determinadas atividades de lazer, exclusividade de acesso a conteúdos, eventos e viagens. (LAMOUNIER, 2010)
No curso de Direito quando você entra na faculdade, vindo de uma realidade mais humilde acaba sendo muito impactante pelo perfil do aluno em sua maioria que paga mensalidade. (...) Como fiquei aqui o dia inteiro, eu entrei um pouco mais cedo na minha sala e à medida que as pessoas vão chegando, você percebe a maneira como elas se vestem, e principalmente pela relação entre si, quanto aos ambientes que frequentam e, consequentemente, os assuntos, naturalmente você se sente com vergonha, a primeira atitude até inconsciente é se comparar com essas pessoas, isso não é legal, é um ambiente que oprime. (W, 23 anos, Direito)
No meu primeiro ano, eu não sabia o que esperar da universidade, pra mim era apenas um espaço de estudo. Mas, a realidade do cotidiano mostrou para mim essas diversidades, diferenças no modo de vestir, na linguagem, no gosto e a supremacia da ideologia dominante, a atmosfera que fica, porque são quatro alunos bolsistas para quarenta pagantes, é óbvio que fica um ar burguês. (R.V, 23 anos, Direito)
Querendo ou não, é muito diferente a forma de se vestir. Cheguei aqui com tênis rasgado, calça jeans de dez reais, menina largada total. Não me sentia bem de jeito nenhum aqui. (L, 25 anos, Geografia)

E sofrem com o preconceito, sobre isto Souza (2010, P. 173) dirá que apesar do colorido na formação social brasileira, isto não anula o fato de que os negros ainda são vítimas de racismo, seja ele de forma sutil ou não, e que isso tem influência nas suas escolhas, na forma de lutar por reconhecimento e no que pode obter para si, material e simbolicamente.
O que fica na minha cabeça sobre esse processo todo é o que se passa na cabeça de uma menina que entra no Direito? Deve ser muito pior, principalmente uma menina que é negra. Na minha sala o mais negro sou eu, não tem professor negro. Os meus sapatos eram dos mais baratos e eu percebia que olhavam meio estranho, e como seria com uma menina? (W, 23 anos, Direito)
Há uma cobrança estética sobre a mulher muito grande. (L, 25 anos, Geografia)
Eu entrei em Economia, e já entrei atrasado, e isso já identifica o aluno ProUni. Eu senti olhares de diferença, único negro. (R, 24 anos, Ciências Sociais)
            Estes problemas enfrentados na universidade levaram os alunos a se organizarem pela via de diversos movimentos e formarem um grupo único que luta por seus direitos e melhores condições:
O ProUni-Se! virou um símbolo. O projeto tem sido para mim um lugar de reconhecimento, de comunidade. Você vê que não está sozinho, mas que falta uma orientação, com quem você vai reclamar seus direitos, e por ser bolsista você não pode fazer certas coisas, parece discriminação. (R.V, 23 anos, Direito)
O motivo que me levou para o grupo foi os problemas de licenciatura e bacharel no curso de Geografia, onde o aluno bolsista só podia fazer um e não avisaram no vestibular. (...) Eu não quero que ninguém passe pelo sentimento de invisibilidade que eu passei aqui nos primeiros anos, se sentindo inferior por não ter roupas caras e não ter dinheiro pra tirar xerox, não quero que ninguém saia da faculdade porque não tem condições de se manter na faculdade.  Eu quero que o grupo se torne mais do que um lugar para as pessoas tirarem dúvidas, mas um grupo para promover mudanças. (L, 25 anos, Geografia)
           
Apesar dos problemas enfrentados, os alunos beneficiados são motivo de orgulho para a família por conseguirem entrar na universidade. Para os brasileiros, o diploma universitário representa o símbolo e o instrumento de ascensão social, configurando uma expectativa concreta de aumento substancial da renda. Muitos desses jovens são os primeiros da família a entrar no ensino superior.
Na minha família, em casa mudou, mas mudou mais em relação aos parentes de fora, minhas tias “nossa pobre aqui faz PUC”. Eu tenho uma parte do lado da minha mãe que nós não temos contato que tem dinheiro e nós somos os pobres, agora pra eles eu tenho reconhecimento, sou alguém pra eles, antes eu não era ninguém, pra eles “a coitada que vai trabalhar de telemarketing a vida inteira”, agora é “a que terá futuro e será professora na vida”.  (L, 25 anos, Geografia)
E, em casa eu já vi minha mãe chorando de alegria, nunca vi minha mãe chorando tanto, ligando pra tias, pra todo mundo “meu filho tá fazendo direito na PUC”. Não fui tanto eu que mudei, mas as pessoas e como elas me enxergam. (R.V, 23 anos, Direito)
E como eu passei um tempo me preparando e depois que entrei na faculdade acabei me afastando um pouco, quando eles descobriam que eu estava fazendo Direito na PUC, eles se surpreendiam “o quê?”, e a questão de ser ProUni influencia ainda mais, calma eu não sou um gênio. O tratamento das pessoas mais velhas que não tiveram oportunidade muda bastante. (W, 23 anos, Direito)
            A entrada no ensino superior proporciona a possibilidade de ascensão social, emprego melhor e contribuição na renda da família, além de propiciar a oportunidade de continuar investindo em formação profissional. Renato Meirelles[24] dirá que os brasileiros ao melhorar de vida e aumentar sua renda passaram a investir em educação. Para garantir que essa melhora não seja algo temporário, que não seja esporádico, não seja uma bolha.
Sim. Mesmo nas faculdades ditas como mercantilizadas, possibilita uma ascensão real. O estudante que está na universidade e ao terminar tiver a oportunidade de ganhar quinhentos reais a mais de salário, isso faz uma diferença muito grande na vida dele e da família. (...) Eu não podia ajudar em casa, mas não gerava gastos, pois tenho um estágio. (...) Conheço pessoas que fizeram faculdade pelo ProUni e agora podem fazer um curso de idiomas que antes era impensável. (W, 23 anos, Direito)
Deixar de ganhar um salário mínimo para ganhar mais de mil reais faz toda diferença.  E, é o que o ProUni proporciona pra pessoas, não uma ascensão social, mas mobilidade social entre as classes A, B, C e D. Você não vai diretamente pra A, mas sai da D para a classe C. (...) Eu falo por experiência. Eu trabalhava com telemarketing e ganhava entorno de quinhentos reais, trabalhando mais de 8hs, aos sábados, e quando entrei na faculdade comecei a fazer estágio e a ganhar mais e trabalhando menos, algo impensável antes. (...) Eu ajudo pouco, consigo pagar uma conta, para meu pai isso faz toda a diferença. (L, 25 anos, Geografia)
Eu concordo. Antes uma pessoa trabalhava 12hs para ganhar certo valor, e no estágio vai trabalhar 6hs pra ganhar até o dobro. É uma diferença gritante! (R, 24 anos, Ciências Sociais)
            Os jovens aqui entrevistados e tantos outros alunos beneficiados com o ProUni são guerreiros que superam enormes desafios para se manterem no ensino superior. Obtém o incentivo da família, ou a esperança de seus pais para que consigam crescer na vida. Estudam arduamente, sofrem com preconceitos e choques culturais, mas não desistem e mostram o enorme valor do capital familiar na classe C.
  
CONCLUSÃO
Por fim, ao considerarmos a análise teórica desenvolvida ao logo da pesquisa sobre as classes sociais, somado a entrevista realizada com os alunos beneficiados com a bolsa do ProUni na PUC-SP, podemos citar pontos importantes que concluem esta pesquisa.
Não existe uma “nova classe média”. A classe C, para Souza e Pochmann será “uma nova classe de trabalhadores”, que enfrentam a precariedade do trabalho, mesmo obtendo um melhor salário, em muitos casos, trabalhando em dois empregos, ou estudando e trabalhando, ela permanecerá em seu bairro mantendo os vínculos familiares, buscará transmitir a herança imaterial e investirá na educação dos filhos.
Os filhos que compõem as famílias das classes C e D terão a oportunidade de acesso ao ensino superior na sua maioria pelo ProUni. Estes jovens estão carregados da herança imaterial que seus pais transmitiram e lutam pelo sonho do diploma de ensino superior.
            Ao entrarem na universidade, se inicia uma mudança de vida para os alunos do ProUni, pois, encontram uma realidade a qual não estão acostumados, principalmente na PUC-SP considerada uma universidade de elite. Também encontram a possibilidade de trabalho em estágios, muitos com boa remuneração, e isto ajuda a completar a renda familiar, que possibilita uma ascensão.
Porém, ao concluírem o ensino superior terão que enfrentar os desafios de não terem, em muitos casos, conhecimento de outras línguas e terão que ir atrás desta formação, mas com maior remuneração devido à formação de ensino superior esta caminhada será mais fácil.
Então, podemos afirmar que o ProUni influencia na formação da classe C e que permite uma ascensão social. Os membros da classe C continuarão a investir na educação individual, ou dos filhos, pois sabem que para vencer na vida nos dias de hoje é necessário ter um diploma de ensino superior.
  
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[1] Fonte: Secretaria de Assuntos Estratégicos - SAE Disponível em: http://www.sae.gov.br/site/?p=12069
[2] NERI; Marcelo. A Nova Classe Média – O lado brilhante da base da pirâmide. Editora Saraiva. 2011. P. 81
[3] Disponível em: http://www.abep.org/novo/Content.aspx?ContentID=301
[4] ABEP. Disponível em: www.abep.org/novo/FileGenerate.ashx?id=252
[5] SOUZA; Jessé. Os Batalhadores Brasileiros. Nova classe média ou nova classe trabalhadora? Editora UFMG, 2010. P. 48, 49 e 50
[6] Artigo: A classe C representa 53% da população brasileira; Fernando Taquari – Disponível em: http://www.valor.com.br/arquivo/179985/classe-c-cresce-e-representa-53-da-populacao-brasileira
[7] Fonte: CPS/IBRE/FGV.
[8] Pesquisa sobre Classe Média. In: LAMOUNIER, Bolívar; SOUZA, Amaury de.  A classe média brasileira: ambições, valores e projetos de sociedade. Editora Elsevier. 2010
[9] Herança imaterial – Transferência de valores imateriais “estilo de vida”. SOUZA; Jessé. Os Batalhadores Brasileiros. Nova classe média ou nova classe trabalhadora? pp. 23
[10] Capital Familiar – É a transmissão de exemplos e valores do trabalho duro e continuado. SOUZA; Jessé. Os Batalhadores Brasileiros. Nova classe média ou nova classe trabalhadora? pp. 50
[11] LAMOUNIER, Bolívar; SOUZA, Amaury de.  A classe média brasileira: ambições, valores e projetos de sociedade. Editora Elsevier. 2010. P. 54
[12] Retirado: LAMOUNIER, Bolívar; SOUZA, Amaury de.  A classe média brasileira: ambições, valores e projetos de sociedade. Editora Elsevier. 2010. P.58
[13] LAMOUNIER, Bolívar; SOUZA, Amaury de.  A classe média brasileira: ambições, valores e projetos de sociedade. Editora Elsevier. 2010. P. 56
[14] Disponível em: http://www.valor.com.br/arquivo/882867/nos-caminhos-do-diploma
[15] NERI; Marcelo. A Nova Classe Média – O lado brilhante da base da pirâmide. Editora Saraiva. 2011. P. 170
[16] Anexo B
[17] Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/L11096.htm
[18] Fonte: Site ProUni - Sisprouni 27/06/2012. Disponível em: http://siteprouni.mec.gov.br/images/arquivos/pdf/Representacoes_graficas/bolsas_ofertadas_ano.pdf
[19] Fonte: Site ProUni - Sisprouni 27/06/2012. Disponível em: http://siteprouni.mec.gov.br/images/arquivos/pdf/Representacoes_graficas/bolsistas_por_regiao.pdf
[20] Fonte: Site ProUni - Sisprouni 27/06/2012. Disponível em: http://siteprouni.mec.gov.br/images/arquivos/pdf/Representacoes_graficas/bolsistas_por_sexo.pdf
[21] Fonte: http://educacao.uol.com.br/noticias/2011/06/11/enem-2011-tem-6221697-inscritos-numero-e-maior-desde-1998.htm
[22] GUIMARÃES, Juarez, PIETÁ, Elói e SÁTYRO, Natália Guimarães Duarte. O Brasil em Transformação – 2003-2010. A Criação de um novo Futuro na Educação, Cultura, Ciência & Tecnologia, Esportes e Juventude. Perseu Abramo. 2010. p. 50.
[23] Fonte: http://prouni-se.blogspot.com.br/2012/01/apresentacao.html
[24] Disponível em: http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI6217221-EI8266,00-Brasil+dos+universitarios+estao+em+instituicoes+particulares.html


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