PONTIFÍCIA
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA SAÚDE - PSICOLOGIA
Cléria Souza
Cynthia
Prado
Gabrielly
Brasca
Juliana
Montans
Sabrina
Xavier
O PROUNI E SUAS FACES: os desafios da inclusão
em uma sociedade excludente
São Paulo
2015
Cléria Souza
Cynthia
Prado
Gabrielly
Brasca
Juliana
Montans
Sabrina
Xavier
O PROUNI E SUAS FACES: os desafios da inclusão
em uma sociedade excludente
Relatório de pesquisa entregue à disciplina de
Modelos de Investigação do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP) sob orientação da Profa. Dra. Fabiola Freire Saraiva de Melo
e Profa. Dra. Cecília Pescatore Alves.
São Paulo
2015
RESUMO
A pesquisa a seguir teve como objetivo investigar as
dificuldades e impressões dos alunos prounistas a respeito do mundo
universitário, com o intuito de conhecer o cotidiano dos alunos e contribuir
com novas formas de inserção na universidade. A pesquisa foi realizada com 182
estudantes da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, de 25 cursos diferentes,
membros do grupo virtual ProUni-se. Trate-se de uma pesquisa de levantamento,
cujo instrumento utilizado foi um questionário online com múltiplas
alternativas. O questionário buscava informações referentes a identificação do
aluno, trajetória educacional, deslocamentos, situação ocupacional, concepção
do mundo universitário, entre outras. Constatou-se que os desafios enfrentados
pelos prounistas são advindos de uma marginalização histórica, englobando a
dificuldade com o ensino público, deficiência financeira, dificuldade na
locomoção, mantimentos, compra de materiais, entre outros. Porém, aparece a
satisfação em relação a oportunidade proporcionada pelo programa, que se torna
um aliado para incentivar o aluno a dar continuidade ao curso, mesmo enfrentando,
todos os dias, inúmeros obstáculos.
Palavras-chave: PROUNI, acesso/permanência/inserção, Ensino Superior.
SUMÁRIO
Introdução .........................................................................................................4
Objetivo .............................................................................................................9
Metodologia .....................................................................................................10
Resultados e análises .....................................................................................11
Conclusões........................................................................................................19
Referências
.......................................................................................................21
Apêndice 1 – Gráficos......................................................................................22
Apêndice 2 – Modelo Termo de consentimento livre
e esclarecido ..........25
Apêndice 3 – Modelo Questionário
...............................................................27
INTRODUÇÃO
O ProUni[1]
é um programa político e educacional que oferece bolsas integrais e/ou parciais
para pessoas de baixa renda. Para que o candidato possa concorrer à bolsa
integral ele deve possuir uma renda per capita de, no máximo, um salário mínimo
e meio. Para que o candidato possa concorrer a uma bolsa parcial de 50%, o
candidato deve possuir uma renda de, no máximo, três salários mínimos por
pessoa. O estudante ingressa através do Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM), em instituições de ensino superior privadas. A
nota mínima estabelecida pelo MEC para participação no processo seletivo do
Prouni referente ao segundo semestre de 2015 é de 450 (quatrocentos e
cinquenta) pontos na média aritmética das notas obtidas nessa prova, o que
equivale a acertar menos da metade da prova, visto que a somatória é de 1000
pontos. Quanto mais concorrido o curso, maior será a nota de corte.
Esse estudo visa refletir sobre as implicações
do “Programa Universidade para Todos” (Prouni) no cotidiano de estudantes da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Pontifícia
Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), trazendo aspectos subjetivos
da experiência dos prounistas, bem como discutir e levantar mais dados sobre
suas dificuldades, superações, medos, angústias, expectativas, etc. Além disso,
é importante destacar a diferença social e econômica destes alunos bolsistas
comparado aos demais alunos pagantes da universidade, que acarreta em uma
desigualdade social a ser enfrentada. Para isso foram entrevistados integrantes
do grupo “ProUni-SE! PUC-SP”2 (Projeto Universitário de Suporte ao Estudante).
Comumente,
os bolsistas do ProUni são oriundos de uma escolarização precária, no geral de
escolas públicas ineficientes e despreparadas, além de possuírem baixo capital
e histórico familiar também proveniente desse histórico excludente. Por conta
dessa defasagem educacional, o acesso ao sistema de ensino superior se torna
árduo devido às enormes diferenças entre aqueles de nível socioeconômico
elevado e estes que tiveram, desde o princípio, poucas oportunidades escolares
e baixa renda.
Diversos
estudos atuais indicam que, apesar dos avanços proporcionados por esse
programa, ele não supre completamente a desigualdade existente, historicamente
construída. Segundo Sena (2011):
[...] O Ensino Superior era privilégio somente
das elites, que percebiam que o domínio da cultura letrada e os altos custos de
uma formação conferiam status e
distanciamento das camadas sociais mais pobres que ficavam à margem de um
projeto de educação que atendesse às massas (p. 58).
A Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)[2]
mostra que 69% dos jovens no Brasil de 18 a 24 anos não estão estudando, ou
seja, isso indica uma pirâmide educacional na qual só uma fração muito pequena
tem acesso à educação superior (13,8%). Dessa forma, o Prouni fornece uma
alternativa a esses jovens que possuem poucas oportunidades de ingresso ao
ensino superior, visto que comumente o ingresso em universidades públicas é até
mais dificultoso e concorrido que em particulares.
Na tese de doutorado “Estímulo, acesso,
permanência e conclusão no Ensino Superior de alunos bolsistas do programa
universidade para todos (ProUni): contribuição para o enfrentamento do processo
de inserção” (2011), Eni de Faria Sena afirma “o que também deve ser colocado
em debate relaciona-se ao acesso (...) pela população de baixa renda, pois as
barreiras iniciam-se no processo de seleção ainda muito elitizado” (p. 121).
Desse modo, as possibilidades de inserção são também bastante limitadas, visto
que se faz necessário que o prounista que queira entrar em um curso mais concorrido
precise de mais tempo para estudar e, muitas vezes, com um auxilio de outra
instituição de ensino, como cursos pré-vestibulares. Essa tomada de tempo já é
dificultosa para muitos alunos, visto que é comum que suas famílias necessitem
de sua ajuda para a renda do lar. Desse modo, muitos dos candidatos ficam em
desvantagem em relação aos outros, pois precisam trabalhar.
No artigo “A efetividade de programas sociais de
acesso à educação superior: o caso do ProUni”, (Saraiva e Nunes, 2011) afirmam:
O ProUni engloba diversas expectativas e
interesses por parte dos governantes, das instituições e dos estudantes: o
governo federal, com a possibilidade de desenvolvimento do país, por meio da
divulgação dos programas sociais desenvolvidos, objetiva o aumento de brasileiros
no ensino superior, o que traz benefícios às instituições de ensino superior
particulares, por meio da redução da carga tributária com abatimentos de alguns
impostos e, para os estudantes, a possibilidade de acesso à educação superior.
(p.3)
Além disso, os cursos de maior concorrência, e,
concomitantemente, de maior gasto - como Medicina, Direito e Engenharia -
apresentam menor quantidade de vagas disponíveis para prounistas. Alguns deles
possuem carga horária integral, o que dificulta a possibilidade de trabalharem,
além do custo com materiais, alimentação e transporte, que não são subsidiados
pelo governo.
Para
Catani e Hey (2007), este programa promove o acesso à educação superior aliando
baixo custo para o governo, equilíbrio do impacto popular, atendimento às
demandas do setor privado e regulagem das contas públicas ao atender à demanda
por acesso à educação superior. Mancebo (2004) critica esta iniciativa do
governo ao afirmar que, diante da falta de recursos para investimentos, da
dívida pública herdada de governos anteriores, propõe uma parceria
público-privada para somente conseguir investimentos privados e tentar
alavancar o crescimento econômico e a geração de empregos. Nesse sentido, o
ProUni representaria a retomada de uma tradição de políticas e renúncias
fiscais que mais beneficiam o setor privado do que induzem às políticas
democratizantes (Catani, Gilioli e Hey, 2006).
Conforme explicita Lourenço (2013), quando os
alunos que saem das periferias das grandes cidades para estudar em universidades
públicas, e particulares de referência, por meio de programas, tal como o
Prouni, passam por muitas dificuldades, dentre elas, a de adaptação. “O choque cultural é iminente, a diferença de ideias, estilos e até a
linguagem, muitas vezes são motivos de chacotas e não de correção pedagógica” (LOURENÇO, 2013, s/p).
Segundo
pesquisa realizada por Arroyo, Alvez, Júnior, Crivelaro (2013), com 360
estudantes de cursos aleatórios, escolhidos em função de serem bolsistas,
independente do ano ou semestre cursado, em quatro diferentes instituições de
ensino superior, sobre as maiores dificuldades encontradas por alunos do
PROUNI, aponta que as maiores questões que envolvem estes alunos, dizem
respeito ao preconceito encontrado, às dificuldades de encontrar informações
sobre o programa que é quase nula, e também ao sentimento de exclusão devido a
sua condição financeira. Dos dados mais importantes da pesquisa, o que chama a
atenção é que quanto ao fato de terem sentido dificuldade acadêmica ou não, 36%
disseram ter sentido e 44% disseram não ter sentido dificuldade. 100% dos estudantes disseram que o curso
superior proporciona oportunidades de experiências culturais e profissionais.
Dentre as principais dificuldades citadas pelos participantes, a mais citada é
a falta de tempos de estudo, provavelmente associada ao fato de terem que
trabalhar durante a graduação, tendo em vista que 42% deles têm dificuldade em
conciliar horários de estudo com o trabalho, que pode-se deduzir ser devido à
falta de recurso desses alunos. Além disso, há também o fator adicional das
despesas extras, que foi citada como uma das maiores dificuldades durante o
curso.
Conforme
Faceira (2010), pode-se afirmar que os alunos PROUNI têm diversas limitações
para se manter no curso, mas suas estratégias de superação estão inseridas no
plano do “empreendedorismo social”. As atuações em estágios remunerados
significam importante rendimento para si e para a família; em sua pesquisa foi
mencionado sentir dificuldade de colocação em estágios quando o critério
utilizado foi indicação; percebe-se isso quando levada em consideração às
vantagens que os alunos, que possuem familiares com empresas ou escritórios de
advocacia. Dentre os sonhos relatados pelos participantes do estudo, os mais
recorrentes foram: “concluir os estudos”, “mudar de vida”, “ajudar a família”,
“crescer profissionalmente”.
OBJETIVO
A partir desses aspectos, temos como
objetivo de pesquisa conhecer os alunos prounistas, quais são as suas
dificuldades e impressões a respeito do mundo universitário. Esta pergunta se
mostra relevante visto que há poucos artigos que visam esses aspectos. Dessa
forma, conhecer o cotidiano dos alunos parece ser uma possibilidade de
contribuir com novas formas de inserção destes na universidade e,
consequentemente, diminuir a evasão.
Para o desenvolvimento da pesquisa foram
utilizados diferentes instrumentos e técnicas de investigação: levantamento,
estudo bibliográfico e aplicação de questionários online. Foram realizadas
análises quantitativas, de forma que permitisse a fundamentação e a
contextualização dos atributos que compõe o objeto de investigação.
A definição da amostra e construção dos
instrumentos de coleta de dados foi pensada visando garantir o espalhamento representativo
do conjunto de bolsistas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Participaram voluntariamente da pesquisa
182 estudantes, de 25 cursos diferentes, membros do grupo virtual ProUni-se.
A pesquisa utilizou instrumento de coleta
de dados contemplando a dimensão quantitativa das análises a serem realizadas.
Foi construído um questionário online com múltiplas alternativas para aplicação
junto aos alunos do grupo ProUni-se.
Para
responder aos objetivos da pesquisa, a elaboração do questionário aos alunos
bolsistas foi feita com o intuito de obter informações para uma ampla
caracterização deste segmento, incluindo: identificação do aluno, trajetória
educacional, deslocamentos, situação ocupacional, concepção do mundo
universitário, dentre outros aspectos.
A
coleta de dados ocorreu entre os dias 17 de setembro e 25 de novembro do ano de
2015.
Gráfico 2
Verificamos
no gráfico 1 a predominância de alunos do gênero feminino, com 62,4%, enquanto
o do gênero masculino mostra-se com 37,6%. Relativo ao segundo semestre de 2015
na PUC-SP. No Gráfico 2, observamos a alta incidência de alunos com a idade
entre 18 e 21 anos (59,6%) e uma menor quantidade de alunos com mais de 25 anos
(8,2%), o que pode ter sido ocasionado pelo motivo de o ingresso em ensino
superior ser maior após o término do ensino médio do que ao contrário. O
gráfico 3 mostra que, realmente, cerca de metade dos alunos (54,1%) não contou
com o auxílio de nenhuma outra instituição de ensino e 34,8% fizeram cursinho
por um ano, talvez explicando o porquê da idade dos alunos prounistas serem, na
maioria, menor que 21 anos de idade. Esse dado dos cursos pré-vestibulares contrasta
com a pesquisa de Eni de Faria de Sena, que aponta esses cursos como
ferramentas bastante recorrentes para a inserção na universidade.
Gráfico 4
O gráfico 4
demonstra que maior parte dos alunos prounistas estudou em escola pública
(86,7%). Além disso, aproximadamente, metade dos sujeitos são brancos (52,5%),
cerca um terço são pardos (32,6%), 13,8% são pretos e somente 1,1% são
amarelos; como se pode observar no gráfico 5.
Verificamos no gráfico 6 que 59,7% dos alunos prounistas
gastam entre 1 e 2 horas para chegar à Universidade, um indicativo de que a
maioria dessas pessoas moram em regiões mais distantes da universidade, isso se
confirma quando percebemos que uma das dificuldades citadas pelos alunos é
justamente a dificuldade de mobilidade, quase metade das pessoas consideram que
têm um pouco de dificuldade por causa da distância entre sua residência e a
PUC-SP, como ilustra o gráfico 7.
Gráfico 6
Gráfico
7
Por mais difícil que seja a vida acadêmica dos alunos
prounistas por conta de dificuldades, têm-se o dado de que a maioria, 72,2% dos
estudantes, nunca considerou abandonar o curso, contra 27,8% que já consideraram. Isso pode ser decorrente do
fato de que para muitos alunos prounistas, estar no mundo universitário é um
sonho realizado, visto que muitas vezes eles são a primeira geração da família
a ter a possibilidade de estudar no ensino superior e, conforme a pesquisa de
Faceira, acreditam que a entrada na universidade pode ser uma formação crucial
para a ambição de “mudar de vida”, “crescer profissionalmente” e “ajudar a
família”. Isso porque é fatídico que um ensino superior pode proporcionar mais
oportunidades de crescimento profissional e melhora de qualidade de vida.
Assim, muitos dos estudantes veem a entrada universitária via Prouni como uma
oportunidade que não pode ser desperdiçada.
Gráfico 9 |
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Dentre as
pessoas que já consideraram largar o curso, a categoria mais mencionada foi a
Falta de Recursos (48%), seguidamente de Locomoção (27%), Discriminação (17%) e
Outros (8%). Os motivos mencionados na categoria “Outros” foram: dificuldade com
matérias, dificuldade de trocar de curso, morar distante da família, cansaço de
deslocamento em relação à faculdade, desânimo, sentimento de incapacidade,
vergonha. Apesar de ter sido apontada essa dificuldade com matérias, quase
nenhum dos alunos da pesquisa relataram uma diferença relevante entre o seu desempenho
e de alunos não-prounistas, o que poderia indicar que essa “defasagem escolar”,
mencionada por Sena, foi compensada com um bom desempenho durante a inserção no
ensino universitário. As pessoas que constataram essa dificuldade em relação à
Falta de Recursos foram Psicologia, Direito, Ciências Econômicas, Publicidade e
Propaganda e Pedagogia. Essa falta de recursos é recorrentemente apontada como
uma das maiores dificuldades do prounistas, como já haviam apontado Saraiva
e Nunes.
Gráfico 12
De acordo com o gráfico 10, cerca de 54,1% dos prounistas trabalham, contudo 64,1 % afirmam que sua renda familiar não é suficiente para se manterem na universidade (gráfico 11). A maioria dos alunos, cerca de 48%, afirmam que a falta de recursos é uma de suas maiores dificuldades e já foi motivo para pensarem em largar o curso (gráfico 12). Esses resultados apontam que as questões financeiras ainda estão entre as maiores dificuldades enfrentadas pelos alunos prounistas. Muitos alunos afirmaram que buscam alternativas para sanar essa dificuldade financeira, tais como buscar estágios ou empregos informais (“bicos”), no gráfico 12, percebemos que 81,7% dos alunos que trabalham estudam no período da noite e 89,3% dos alunos que não trabalham estudam em período integral, um indicativo de que os alunos que estudam em período integral possam enfrentar maiores dificuldades financeiras.
Gráfico 13
Gráfico 14
Sobre terem sofrido discriminação, a diferença entre os que responderam “Sim” e “Não” é relativamente baixa. Os que responderam já ter sofrido discriminação são 44,8% contra 55,2%, no entanto, ainda que a diferença seja relativamente baixa, não devemos descartar o dado de que quase metade dos alunos prounistas já tenham se sentido discriminados, possivelmente, pela sua condição social mais baixa uma vez que o gráfico 5 mostra que a maioria destes são brancos, podendo a questão étnica ser menos significativa para a determinação do ser discriminado.
Dentre aqueles que já sentiram vergonha de dizer que são prounistas, aproximadamente, ¼ apenas disseram ter sentido vergonha de dizerem que são prounistas, não sendo estes relatados por meio do questionário.
Em relação ao ensino médio e sua influência na vida acadêmica do ensino superior, podemos ver que no gráfico 15 não há discrepância entre as dificuldades encontradas em conteúdos acadêmicos relacionadas com o tipo de escola que o sujeito estudou, como é possível observar no gráfico esses números estão bem equivalentes.
Gráfico 15
CONCLUSÕES
A partir da análise dos dados obtidos, foi possível concluir que os estudantes da amostra que responderam ao questionário, reiteram a proposta inicial da pesquisa de demonstrar os desafios da inserção em um programa inclusivo (ProUni) dentro de uma sociedade historicamente excludente. Isso porque os enfrentamentos apresentados são decorrentes de problemas advindos de uma marginalização histórica, dentre eles a dificuldade de educação em uma escola pública, sendo, dos alunos que responderam ao questionário, mais de 85% oriundos destas, a deficiência financeira, que é amplamente vista nas condições das famílias dos estudantes, levando em consideração que, em sua maioria, a renda familiar é considerada insuficiente para se manterem na faculdade, a distância, sendo pouco mais de 70% aqueles que levam entre 1, 2 ou mais de 3 horas para chegar à universidade (considerando como não dificuldade, apenas cerca de 23% dos alunos), a condição de compra de material, facilmente relacionada à falta de recursos, que, aproximadamente, metade dos alunos (48%) consideram também uma dificuldade, entre outros. Além da discriminação, também apontada como uma problemática, sofrida por motivos diversos.
Apesar disso, é evidente a satisfação dos estudantes em relação à oportunidade proporcionada pelo programa, visto que mesmo com todas as dificuldades apontadas, a grande maioria não cogitou abandonar o curso. O pensamento majoritário está focado, principalmente, em conseguir o melhor aproveitamento possível do curso.
A pesquisa demonstrou ainda que é necessário que haja um aprofundamento das propostas ProUnistas, a fim de sanar todas as problemáticas vividas pelos estudantes, que não são falhas do programa, mas reminiscências da construção socioeconômica da sociedade brasileira. Entretanto, pode-se propor que o programa reveja certas medidas para facilitar a permanência dos alunos na Universidade, como um auxílio para a compra de matérias (uma das principais problemáticas apontadas na pesquisa).
Ademais, futuras pesquisas relacionadas ao ProUni são bem vindas ao campo acadêmico, não só com enfoque local, mas buscando estudar o assunto em âmbito nacional - vendo que atualmente é um programa educacional que não foi amplamente estudado em certos aspectos, sobretudo ao que diz respeito às vivências dos alunos bolsistas.
REFERÊNCIAS
ARROYO, M.C; ALVES, M.P; JÚNIOR, L.T.K; CRIVELARO, M. Maiores dificuldades encontradas pelos bolsistas do PROUNI para concluir o curso superior. São Paulo, 2013. VIII Workshop de pós-graduação e pesquisa do centro Paulo Souza.
CATANI, A.M, HEY A.P & GILIOLI, R.S.P. PROUNI: democratização do acesso às Instituições de Ensino Superior?. Educar, Curitiba, n. 28, p. 125-140, 2006. Editora UFPR.
FACEIRA, L.S. Análise microssocial do PROUNI como política pública de inclusão acadêmica e social: o olhar do aluno bolsista. Rio de Janeiro, 2009. 38p. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Educação do Departamento de Educação da PUC-Rio. Disponível em: <http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/14114/14114_8.PDF>. Acesso: 06/11/2015
LOURENÇO, E. Da periferia aos desafios no ensino superior: Disponível em: <http://prouni-se.blogspot.com.br/2013/09/da-periferia-aos-desafios-no-ensino.html>. Acesso em: 19 junho 2015.
MANCEBO, D. Reforma Universitária: Reflexões Sobre a Privatização e a Mercantilização do Conhecimento. Educ. Soc., Campinas, vol. 25, n. 88, p. 845-866, Especial - Out. 2004.
SARAIVA, L.A.S.; NUNES, A.S. A efetividade de programas sociais de acesso à educação superior: o caso do ProUni. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v. 45, n. 4, 2011.
SENA, Eni de Faria. Estímulo, Acesso, Permanência e Conclusão no Ensino Superior de Alunos Bolsistas do programa Universidade Para Todos (Prouni)- Contribuições para o Enfrentamento do Processo de inserção. São Paulo, 2011. Tese (Doutorado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
[1] Criado pelo Governo Federal em 2004, Medida Provisória (MP) nº. 213/2004 e institucionalizado pela Lei nº. 11.096, de 13 de janeiro de 2005.
2 Grupo organizado por bolsistas do ProUni interessados em garantir direitos, permanência no ensino superior, inclusão social e projetos voltados para a melhoria da relação entre os estudantes e a universidade. Foi criado e é mantido em uma rede social.
[2] A Pesquisa Nacional de Amostra em Domicílio (PNAD), realizada na década de 60, surgiu com o intuito de suprir a falta de informações sobre a população brasileira durante o período intercensitário; e de estudar temas insuficientemente investigados ou não contemplados nos censos demográficos decenais realizados por aquela instituição (Fundação IBGE através do Programa Nacional de Pesquisas Contínuas por Amostra de Domicílios). Nessa pesquisa ficou evidente a carência de informações que o Brasil tinha para planejar e acompanhar o seu desenvolvimento social, econômico e demográfico. Isso porque os dados decenais, oriundas dos censos demográficos, eram insuficientes e demasiadamente defasados naquela época para atender às demandas. As pesquisas por amostra de domicílios eram o caminho possível para o atendimento das demandas existentes, uma vez que, além de possibilitarem um maior controle das fases operacionais e uma significativa redução do tempo de execução e dos custos, permitem a ampliação e o aprofundamento dos temas captados pelos levantamentos que investigam toda a população.
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