Da Periferia aos Desafios do Ensino Superior

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O ProUni enquanto política pública educacional de acesso ao ensino superior: a questão dos direitos de acesso e permanência


O ProUni enquanto política pública educacional foi  inaugurado com forte cunho neoliberal, segundo as peculiaridades da própria configuração do atual Estado Democrático de Direito. Desde então, se consolidou uma grande transformação no acesso ao ensino superior, fundada no pacto entre o Governo Federal e as Instituições de Ensino Superior – as IES, do qual se erigiu o direito  de acesso às universidades privadas, em que o exercício da cidadania se consolidou pelo livre acesso de todos estudantes aprovados do Exame Nacional do Ensino Médio aos bens sociais e culturais que as IES dispõe. Especificamente com relação à apreensão da natureza institucional dos direitos de acesso ao ensino, à pesquisa e a extensão acadêmica. Tais direitos propõe um nível de atuação estatal tanto no nível macropolítico quanto no nível micropolítico através do SISPROUNI e das Comissões Locais de Acompanhamento e Controle Social do ProUni – as COLAPS.  

A dimensão de tais políticas públicas educacionais no Estado Democrático de Direito resultaram na inserção das atividades de interesse público no âmbito privado, com forte tendência à instituição permanente desse modelo educacional, cuja formulação inicial concebida antes como medida paliativa agora se estrutura como um produto inovador voltado para as recentes gerações de universitários com pouco poder econômico em busca de ascensão social e capital cultural. Essas inovações nas políticas públicas educacionais resultaram na alteração da própria natureza das IES, mas não assumiu uma ideologia estatizante, uma vez que o Estado não deixou ao seu encargo, as funções consideradas como atributos genuínos da sociedade civil, dos professores, funcionários e estudantes, como mostra a representação destes atores nos órgãos colegiados de natureza consultiva estabelecida pela portaria n°1132/2009.

Do ponto de vista dos seus titulares – os beneficiários do Programa Universidade Para todos, tal dicotomia coloca o questionamento sobre o modo como os direitos sociais cumprem os objetivos constitucionais, uma vez que visam assegurar o acesso a distintas, desiguais e diferentes necessidades acadêmicas: transporte, material escolar, xerox, moradia, saúde, alimentação e todos os demais direitos sociais básicos. A questão que se coloca, portanto, é a frustração da inclusão acadêmica que, ao renegar políticas de permanência no ensino superior, instituiu o ideário de um sistema educacional no qual todos os membros da comunidade acadêmica deveriam atuar para manter assegurado, não apenas o direito à satisfação das necessidades básicas, mas o acesso ao poder e à riqueza, segundo os méritos individuais e coletivos em instâncias de representação discente.

Nesse viés, os direitos de acesso e permanência no ensino superior, considerados direitos sociais constitucionais, é igualmente a expressão da micropolítica dos movimentos e associações que os demandam, de baixo para cima; porque, além de decorrerem do conflito econômico e da intervenção do Estado (em sua dimensão jurídica), suscitam a indagação de sua própria institucionalidade, como expressão e metamorfose das necessidades dos acadêmicos que os invocam, como cidadãos.

A relação dialética entre o Estado, instituições de ensino superior privada e os estudantes beneficiários das políticas públicas educacionais, remete à origem dos direitos educacionais, enquanto um processo dialético entre os direitos sociais e o mundo político da cidadania, bem como, da exigência ética de justiça e os efeitos da política econômica.

As diferenças e similitudes sociais de classe, gênero, etnia e renda expressa-se sob a ótica dos sujeitos que os pronunciam e são problematizados em suas exigências de justiça social, evidenciando que não se trata de meras defesas de interesses econômicos, mas sim, a expressão singular dos princípios universais da cidadania e da concepção política das desigualdades sociais. Em outras palavras, o acolhimento de um processo micropolítico de inclusão acadêmica tem, assim, o efeito de tornar visíveis as realidades que os direitos expressam, fortalecendo a concepção dos direitos sociais, habilitando-se a obtenção dos bens sociais, a que se referem os direitos de acesso e permanência, por meio da auto-organização social e institucional acadêmica através das Comissões Locais de Acompanhamento e Controle Social do ProUni.


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