Projeto PROUNI e Inclusão Social: Inclusão Social de Alunos em Situação de Vulnerabilidade Social na PUC-SP Campus Monte Alegre
Aluna: Vanessa Alves da Silva
Professora Orientadora: Profa. Dra. Maria Lúcia Rodrigues
(Programa de Estudos de Pós Graduação em Serviço Social)
RELATÓRIO FINAL – PIBIC-CEPE
Maio de 2010 a Julho de 2010
OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO / CAPES / INEP
PUC-SP – 2010
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................................3
METODOLOGIA.........................................................................................................................5
O Grupo de Reflexão......................................................................................................................6
ANALISE DOS RESULTADOS.................................................................................................7
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................................15
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................17
ANEXO A....................................................................................................................................18
ANEXO B....................................................................................................................................19
INTRODUÇÃO
“(...) todo mundo fala, ah você na PUC, mas existe eu também na vida da PUC, porque eu estou acrescentando aqui, tem uma PUC 2010 que quem está fazendo somos nós. (...) Eu me sinto acrescentando, eu acho que eu enriqueço a faculdade mesmo, contribuo com o que eu trago de vida, de conhecimento e de disposição de viver, eu não estou só extraindo, eu estou trazendo, e o fato de ter uma bolsa, eu não estou pagando um real para estar aqui, ótimo, é perfeito, porque a minha família, meus avós, todo mundo pagou para eu estar aqui, foi uma mão de obra que trabalhou muito, hoje entendendo a lógica de impostos, então assim, eu paguei umas três faculdades, só eu paguei isso.” (Depoimento de aluna da PUC/SP)
Este Projeto de Iniciação Científica, inserido no Projeto PROUNI e Inclusão Social, teve por objetivo pesquisar os alunos bolsistas do PROUNI, que estão em situação de vulnerabilidade social, na PUC-SP - Campus Monte Alegre, a fim de analisar como essa vulnerabilidade se expressa, objetiva e subjetivamente, na inclusão social desses alunos na universidade, considerando o acesso, a vivência universitária e a convivência entre os alunos bolsistas PROUNI e outros alunos.
Historicamente a educação superior no Brasil vem passando por diversas transformações, considerando o crescente número de pessoas que hoje acessam a universidade. Por outro lado, atualmente,13,9% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos conseguem uma vaga no ensino superior[1]. Segundo o IBGE, o percentual brasileiro é baixo quando comparado ao de países como a França, Espanha e o Reino Unido, onde o índice é superior a 50%, ou ainda em relação ao de algumas nações da América Latina, como o Chile (52%). Este percentual nos coloca diante da realidade de jovens de baixa renda, que lutam para vencer as barreiras e ingressar no ensino superior, ou seja, fazer a faculdade.
O debate sobre a inclusão social de alunos das classes sociais menos favorecidas e as políticas públicas de educação voltadas para a população, tem estado no centro da discussão sobre o acesso a universidade. O PROUNI enquanto programa que pretende democratizar o ensino superior no Brasil, propõe-se a viabilizar o ingresso de jovens de baixa renda, vindos do ensino médio público, em instituições de ensino superior privadas, por meio de parceria com o Ministério da Educação. O PROUNI já atendeu, desde sua criação até o processo seletivo do primeiro semestre de 2010, 704 mil estudantes[2]. O PROUNI possui também ações conjuntas de incentivo à permanência dos estudantes nas instituições, como a Bolsa Permanência, o convênio de estágio MEC/CAIXA e o FIES – Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, que possibilita ao bolsista parcial financiar até 100% da mensalidade não coberta pela bolsa do programa.
A compreensão da trajetória social dos alunos em situação de vulnerabilidade social inseridos no PROUNI, suas dificuldades de acesso e de permanência na universidade, coloca-se como possibilidade de aprimoramento das políticas públicas e privadas voltadas à educação superior.
A escolha pela realização deste estudo na PUC-SP – Campus Monte Alegre, ocorreu por conhecermos alguns dos aspectos relacionados à vulnerabilidade social dos alunos bolsistas PROUNI na instituição e suas implicações na condução dos estudos destes alunos, no decorrer do curso, principalmente no que diz respeito à desigualdade de acesso às estruturas materiais e simbólicas, presente nos diversos contextos socioeconômicos que se apresentam neste espaço. Ocorreu ainda, para finalizar a pesquisa iniciada pela bolsista Nathália Guimarães Novoa Macia, aluna bolsista que desistiu do curso de Serviço Social.
METODOLOGIA
No percurso para o desenvolvimento do trabalho, além de estudo bibliográfico e participação nas reuniões regulares do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Ensino e Questões Metodológicas – Nemess/PUCSP, foi utilizado como instrumento de coleta de dados, o grupo de reflexão, reunindo alunos bolsistas do PROUNI para discutir a questão da vulnerabilidade social e da inclusão social na PUC-SP.
Para tanto, foi realizada uma reunião com o Serviço Social do PAC (Programa de Atendimento Comunitário/PUCSP), com o intuito de conhecer os serviços direcionados aos alunos bolsistas do PROUNI em situação de vulnerabilidade social. Não foi possível ter acesso diretamente a esses alunos, mas o setor contribuiu mostrando a atuação do Serviço Social e os contextos ou situações que levam os alunos a procurar aquele atendimento.
Para formar o grupo de reflexão contamos com a especial ajuda de uma professora do curso de psicologia, que tendo contato com os alunos por meio de e-mail se prontificou a contatá-los para o agendamento do encontro, mediante o envio de um convite formalizado e explicativo sobre o que era a pesquisa e para qual discussão estaria o aluno sendo convidado a participar. O retorno veio através de e-mail dos próprios alunos que se mostraram dispostos a colaborar com a pesquisa.
Após a realização do grupo de reflexão, os dados foram organizados e analisados, por meio da transcrição das falas dos participantes do encontro, e articulados ao conteúdo teórico a que tivemos acesso no período do mês de maio a julho e que compõe este relatório.
· O grupo de reflexão
O processo de construção do grupo de reflexão iniciou-se a partir de uma ligação telefônica realizada a uma professora do curso de psicologia que fora indicada como uma das poucas professoras da universidade que realizam alguma atividade com os alunos bolsistas do PROUNI. Trata-se de uma reunião periódica com tais alunos com o intuito de realizar o acolhimento, bem como proporcionar a troca de experiências entre eles. Fomos muito bem recebidas por ela e após as orientações sobre os procedimentos necessários para o agendamento do encontro, como a explanação deste projeto específico e do projeto maior, e ainda a definição de local e data do encontro, obtivemos então, acesso aos alunos. Recebemos retorno de dez alunos interessados, dos quais oito manifestaram disponibilidade para realização do grupo na data e horário pré-agendados; destes, compareceram quatro.
Percebemos dificuldade para a adesão dos alunos, o que provavelmente se deu pelo fato da data da realização do encontro coincidir com o período das avaliações de algumas disciplinas dos cursos. Paralelamente ao processo de construção do grupo de reflexão, realizamos a elaboração de um roteiro (Anexo A) para nortear as discussões do grupo. Para a realização do grupo de reflexão contamos com a presença da Professora Dra. Marcia Helena Farias (pesquisadora do NEMESS), com um aluno do terceiro ano de Serviço Social que nos auxiliou com a filmagem da dinâmica do grupo e com quatro dos alunos convidados (todos do curso de psicologia).
A reunião iniciou-se com a apresentação do projeto “PROUNI e Inclusão Social” e do sub-projeto de pesquisa de Iniciação Científica, na qual foi ressaltada a importância da contribuição dos alunos presentes. Após a apresentação da equipe e da pesquisa e sob orientação da Profa. Marcia foi aplicado o questionário desenvolvido no projeto maior, com objetivo de auxiliar com dados quanti-qualitativos também nesta pesquisa de Iniciação Científica. Em seguida, iniciamos a reflexão sobre a vulnerabilidade social dos alunos bolsistas do PROUNI, tendo como eixo o significado da universidade na vida destes alunos e seus desdobramentos.
ANÁLISE DOS RESULTADOS
Ao selecionar os depoimentos dos alunos que participaram do grupo, procuramos identificar o campo de vulnerabilidades social, conjugando as dimensões sociais, econômicas, culturais, tanto objetivas quanto subjetivas.
De modo mais abrangente, constatamos que o PROUNI apresenta-se como opção de acesso ao direito à educação de qualidade e gratuita, ainda que em instituições privadas e, nestes termos, comomedida propositiva positiva ao mesmo tempo que paradoxal. Ou seja, nas reflexões dos alunos, esse movimento se expressa com duplo sentimento: na medida em que se sentem inseridos na universidade por meio da bolsa, ao mesmo tempo, sentem-se excluídos da vivência universitária em sua plenitude. É neste sentido que nos parece pertinente considerar a dialética exclusão/inclusão proposta por Sawaia (2010), quando diz:
“O que queremos enfatizar ao optar pela expressão dialética exclusão/inclusão é para marcar que ambas não constituem categorias em si, cujo significado é dado por qualidades específicas invariantes, contidas em cada um dos termos, mas que são da mesma substância e formam um par indissociável, que se constitui na própria relação. A dinâmica entre elas demonstra a capacidade de uma sociedade existir como um sistema. Essa linha de raciocínio permite concluir, parafraseando Castel (1998), que a dialética exclusão/inclusão é a aporia fundamental sobre a qual nossa sociedade experimenta o “enigma de sua coesão e tenta conjurar os riscos de sua fratura”. (p.110)
No mesmo sentido cabe a afirmação de Rodrigues (2009), quando afirma que
“(...) o modo de incluir-se ou de como se está incluído coloca-nos diante da perspectiva multidimensional do significado de inclusão, dos limites e das possibilidades que concernem às diferentes estruturas e organizações sociais, das escolhas que fazemos das decisões que tomamos na vida, das possibilidades de acesso e das estratégias de sobrevivência. Inclusão e exclusão mantêm relações recíprocas, fazendo resultar desta articulação os dispositivos de intervenção das políticas públicas e de reagenciamento das ações sociais, tanto do Estado como das organizações sociais não-estatais. Só há inclusão social porque existe exclusão social”. (p.36)
Esta contradição se apresenta no cotidiano destes alunos, nas suas relações com o universo acadêmico e permeia sentimentos de fragilidade como: incerteza, insegurança, às vezes humilhação, renúncia e a constante necessidade de superação de sua condição social e pertencimento a determinado grupo. Sabemos que a desigualdade social os obriga a fazer escolhas, como a realização de um sonho: o bolsista ao cursar a universidade e apropriar-se do conhecimento, vê-se diante da impossibilidade de realizar atividades socioculturais seja por falta de tempo (pois precisam trabalhar e estudar), seja por falta dinheiro, tendo como prioridade a realização do curso universitário. Ao considerarmos tais escolhas, pudemos constatar um sentimento de sofrimento ético-político e social na expressão dos alunos. Identificavam-se com uma “vivência que é diferente” dos outros alunos, como forma de exclusão de determinados contextos, designados com mais exclusividade à outra classe social. Isto evidencia a distinção social, material e simbólica dos alunos bolsistas PROUNI em situação de vulnerabilidade social.
“Eu achei algumas dificuldades, na questão, por exemplo, este curso não é feito e não é pensado para pessoas que precisam trabalhar, quando eu entrei, eu trabalhava há 4 anos, ainda cheguei a trabalhar 3 anos, mas tive que mudar, porque eu fazia integral manhã e tarde e trabalhava da 17h até às 23h, assim, muita dificuldade de você conseguir mudar uma matéria, ter que fazer muitas coisas, não é feito sabe, é feito numa direção, não é pensado na verdade, é pensado para uma classe que não tem necessidade de trabalhar, tem disponibilidade de comprar material e livro devido a demanda, o tanto que se pede, e não tem como você dar conta sem trabalhar, de comprar os livros, essas coisas, no caso eu tinha que trabalhar para comprar os livros, pagar a condução, porque não é só a faculdade tem muito mais encargos que você tem para viver.” (R)
“Eu tentei o PROUNI especificamente pra tentar este curso aqui, e aí quando eu consegui acho que foi uma grande questão que eu vivi no começo, de pensar, nossa eu vim pra cá por que eu achava que eu tinha o direito de estudar em uma universidade boa, de fazer um bom curso e aí eu me deparei com uma situação super difícil, que é muito caro morar aqui em São Paulo, é muito diferente morar aqui do que morar em uma cidade do interior, eu tive que mudar matérias, eu fazia o curso vespertino noturno, tive que mudar do integral pra estudar a noite, e foi muito difícil” (L)
“Foi muito difícil porque eu trabalhava em um abrigo a noite e saía de casa num dia de manhã, passava o dia na PUC, porque eu tinha equivalências pra cumprir, então tinha que passar o dia inteiro aqui, ia trabalhar e voltava pra cá e só então eu ia pra casa, e eu me questionava muito sobre até que ponto existe esse direito a educação, porque foi uma fase muito, muito difícil pra mim, fisicamente, e aí tem todos os outros aspectos, porque você tem uma vida afetiva, na época eu namorava, meu namorado era de fora, então era super complicado, com essa vida também eu não tinha muito tempo, então você deixa de viver muitas coisas fora da faculdade, quando você tem folga um dia sim outro dia não, tem que fazer todas as leituras que a PUC exige, você deixa de fazer muitas coisas, então você deixa de ir ao cinema, você deixa de sair com seus amigos, então você deixa de fazer muitas coisas.” (L)
“Iniciação Científica, sabe eu nunca pude, ou ir a Congressos, ou eu não podia porque estava trabalhando ou eu tinha tempo, mas não estava trabalhando, logo eu não tinha dinheiro, que é sempre este problema, é bem complicado.” (L)
Segundo SAWAIA, (2010)
“O sofrimento ético-político abrange as múltiplas afecções do corpo e da alma que mutilam a vida de diferentes formas. (...) Ele revela a tonalidade ética da vivência cotidiana da desigualdade social, da negação imposta socialmente às possibilidades da maioria apropriar-se da produção material, cultural e social de sua época, de se movimentar no espaço público e de expressar desejo e afeto.” (p. 106)
“Ah às vezes os amigos chamam assim, ah vamos lá, na balada, lá não sei onde, é só R$ 25 reais, open bar (risos), é barato assim se for ver, os preços das coisas, mas tipo não dá pra ir, aí você pensa, gastar R$ 25 reais em um dia, é muito dinheiro, daí você não tira xerox, fica alguns dias sem comer.” (C)
“São pessoas que fizeram coisas que eu não fiz como ir para o exterior, então elas trazem conhecimentos de outra ordem, do idioma” (E)
“É um contexto que é diferente, a gente pode se relacionar muito bem com os outros estudantes e tal, mas a gente tem uma vivência que é diferente.” (L)
Emprestamos de Vignoli e Filgueira (2001 apud Ambramoway, 2002), o conceito de vulnerabilidade social compreendendo-a
“(...) como resultado negativo da relação entre a disponibilidade dos recursos materiais ou simbólicos dos atores, sejam eles indivíduos ou grupos, e o acesso à estrutura de oportunidades sociais econômicas culturais que provêm do estado, do mercado e da sociedade. Este resultado se traduz em debilidades ou desvantagens para o desempenho e mobilidade dos atores” (p.13). (...) O conceito de vulnerabilidade social ao tratar da insegurança, incerteza e exposição a riscos provocados por eventos socioeconômicos ou ao não acesso a insumos estratégicos, apresenta uma visão integral sobre as condições de vida dos pobres, ao mesmo tempo em que considera a disponibilidade de recursos e estratégias para que estes indivíduos enfrentem as dificuldades que lhes afetam.” (p. 34-35).
Nesse sentido, pode-se entender que a vulnerabilidade social não se apresenta somente a partir dos aspectos objetivos, como o acesso aos recursos materiais que envolvem a inserção e a permanência do aluno bolsista na universidade. Mas também, através dos aspectos subjetivos e simbólicos que envolvem esse processo, como a singularidade dos sujeitos e o acesso a cultura; a cultura enquanto uma estrutura simbólica, presente nas sociedades, capaz de distinguir socialmente os sujeitos numa dada configuração social.
Cunha Almeida (2007) estudando a dimensão simbólica entende que ela é um capital cultural e que se institui na medida em que aquele sistema simbólico se torna dominante no âmbito das sociedades. “O conceito “capital cultural” se mostra como uma ferramenta importante para apreender a dimensão simbólica da luta entre os diferentes grupos sociais (como a luta pela legitimação de certas práticas sociais e culturais, úteis para definir e distinguir os diferenciais de poder dos diversos grupos pela posse da cultura dominante ou legítima). Os sistemas simbólicos dominantes ou legítimos numa dada configuração social são aqueles construídos e operados pelos grupos que conseguiram se colocar em posição dominante. A cultura torna-se, então, dominante porque é a cultura dos grupos dominantes, e não porque carrega em si algum elemento que a torne superior.” (idem, p. 47).
No mesmo estudo, a autora se reporta a Setton (2005) quando afirma que (...) Bourdieu não desconsidera a existência de grupos populares na disputa pela cultura legítima, por isso que a posse desse capital (privilégio de poucos) [o simbólico] revela a concorrência de diferentes grupos sociais para a aquisição de algo que sirva como elemento não somente de legitimação, como também de distinção social. A cultura aparece como um bem que pode sancionar a condição de herdeiros, uma vez que o acesso à cultura e a aquisição desta entre os grupos sociais distintos conferem aos mais privilegiados um poder real e simbólico que os habilita a apresentar não somente os melhores desempenhos escolares, como também uma relação de naturalidade e de intimidade com as práticas sociais e culturais mais valorizadas socialmente.” (p. 80-81).
Estes conceitos foram de extrema importância para realização deste estudo, porque facilitaram a compreensão e a análise do PROUNI enquanto política pública de educação e de inserção social. Mas o Programa não facilita só o acesso à universidade. Permite convivência no contexto social mais amplo, especialmente, no que diz respeito ao trânsito entre classes sociais diferentes.
“Eu nunca tive problemas para relacionar com as pessoas aqui, eu tive sorte, enfim, de encontrar pessoas legais e tal, mas as pessoas não entendem muito isso, porque são universos diferentes, então eles me chamam pra ir aqui e ali e tal e eu não posso.” (L)
“Quer ver um que aparece muito até discutindo com as pessoas do PROUNI, assim principalmente quando eu entrei, as pessoas chegavam assim no começo do semestre, ah você veio da onde? Ah minhas férias eu passei na Espanha, aí eu, mas eu nem saí de casa eu passei trabalhando as férias.” (R)
“Ah, você vai viajar no feriado? Ah, eu vou pra casa dos meus pais, ah, não porque eu vou para Nova Iorque, enfim, são planos que são diferentes, até mesmo em Congressos, que as pessoas tem condição de pagar um Congresso que é na Bahia, um Congresso que é no Rio de Janeiro, a gente não tem, ou cursos e eu acho que a gente também gostaria de poder participar dessas coisas” (L)
Parece-nos que a questão mais forte que se coloca é de ordem econômico-financeira para o acesso e não de ordem relacional, pois neste campo, os bolsistas sentem-se acolhidos embora não consigam acompanhar os colegas por limites econômicos.
Mesmo com as dificuldades que os bolsistas apresentam, percebemos pelos relatos de suas trajetórias de vida até a inserção na faculdade, a importância do Programa enquanto indutor de potencialidades. Segundo SAWAIA, (1999)
“A análise da exclusão por meio do brado de sofrimento capta nuanças finas das vivências particulares da mesma, (...) a exclusão não é um estado que se adquire ou do qual se livra em bloco, de forma homogênea. Ela é processo complexo, configurado nas confluências entre o pensar, sentir e agir e as determinações sociais mediadas pela raça, classe, idade e gênero, num movimento dialético entre a morte emocional e a exaltação revolucionária. (...) a maioria das análises baseia-se em valores éticos universais, isto é, elege um princípio regulador sobre o qual se pode agir para minimizar os seus efeitos e atingir a emancipação. Esse princípio é a humanidade.” (p. 112)
Para FERREIRA, (1997)
“Espinosa denominou-o de potência de ação e o contrapôs potência de padecer. A filosofia política de Espinosa é ética e remete à humanidade. Ela fundamenta-se no conceito de potência, entendido como o direito que cada indivíduo tem de ser, se afirmar e de se expandir (ESPINOSA, 1998), cujo desenvolvimento é condição para se atingir a liberdade” (p.502).
Nesse sentindo, ao tratarmos da potência dos sujeitos, os alunos enfatizaram a importância do contexto de suas trajetórias de vida até a inserção na universidade, entendendo que suas vivências pessoais, cada qual em sua singularidade, se relacionam na universalidade, ao desejo de fazer parte, de ter acesso a educação, de qualificar-se independente de sua condição social e de alcançar uma profissão reconhecida e bem remunerada. Entendem o Programa como uma possibilidade de realização de seus projetos de vida, visto que reconhecem as dificuldades de acessar uma universidade pública, considerando a conjuntura da educação no Brasil. Os caminhos que os fizeram chegar a universidade foram diferentes: uns impulsionados pela religião, outros pela família ou por si mesmos ou ainda, pelo desejo de progredir. Mas o contexto ao qual estavam inseridos lhes proporcionou uma consciência emancipatória para se perceberem como sujeitos que podiam ter acesso a uma política pública; através dessa oportunidade ingressariam na universidade e assim seriam capazes de realizar e concluir os estudos, diferentemente de seus pais.
“Mas acho que muito da minha trajetória foi marcada pela minha família, porque a minha mãe engravidou quando ela estava na faculdade e depois não voltou mais, e meu pai fez só até a quarta série, só que eles sempre incentivaram a educação, mesmo meu pai não sabendo o que é educação, para ele a educação era para o emprego, porque tem muito dessa coisa, única coisa para o pobre ascender é através da educação. Então no meu bairro as escolas são muito ruins, minha mãe me colocou em outra escola, arrumou um endereço emprestado para tentar uma escola pública que era melhor, em outro bairro, ela dormiu a noite na fila com o endereço falso, e nisso eu fui estudar, mas a escola não era muito boa, pra ter idéia, mas era a melhor da zona norte, aí terminou e falei, bom vou ter que trabalhar agora, fiz curso técnico no Senai, mecânica geral, dava pra ter arrumado um emprego e estar ganhando hoje uns dois mil e quinhentos reais, mas eu falei não é isso que eu quero, arrumei um emprego de seis horas, pra estudar tem eu ser de seis horas, não dá para ser de oito horas, você não consegue, aí eu fui fazer cursinho, no primeiro não passei, no segundo também não, eu fiz quatro anos de cursinho, foi no cursinho que eu li meu primeiro livro de literatura, bem o Machado, no começo eu não entendi aquela ironia, aí comecei a ler outros, e comecei a gostar, sabe, e comecei perceber aquilo que meu pai e minha mãe falavam, de estudar para ter uma profissão, eu disse não, vou estudar muito mais pelo conhecimento, tanto que quando eu entrei, falavam em engenharia ou advocacia, eu disse, não vou fazer história ou psicologia, não necessariamente nessa ordem, aí consegui a psicologia aqui, que é melhor do que na USP, e fui fazendo e tinha que trabalhar, o que é uma dificuldade, aí o que você começa a fazer, tenta ler o que der na semana, e estuda no final de semana, enquanto todos os seus colegas estão saindo, assistindo televisão, você não pode, então perde na vida social.” (R)
A dialética exclusão/inclusão também está presente nas falas dos alunos, no que diz respeito àestrutura da universidade, que segundo eles, não comporta a dinâmica de um aluno que precisa trabalhar enquanto cursa o ensino superior. A universidade não se ocupa em elaborar estratégias que viabilizem a articulação entre o estudo, o trabalho e/ou estágio remunerados. E isso torna-se um forte limite para os bolsistas.
Outra questão abordada pelos estudantes do curso de psicologia que exige período integral na PUC-SP foi a impossibilidade de acessarem a complementação da bolsa, oferecida pelo Programa a cursos de período integral, por motivos de carga horária insuficiente o que implica em revisão de currículo do curso. Por outro lado, reconhecem algumas das mediações da universidade, ainda que insuficientes, como o PAC (Programa de Atendimento Comunitário), que não é oficial, mas oficioso. Avaliam as possibilidades de intervenção da universidade e das políticas públicas, no sentido de melhoria da vivência universitária dos alunos bolsistas PROUNI em situação de vulnerabilidade social, realizando propostas de adequação do uso da biblioteca, melhor divulgação ou socialização das informações pertinentes aos alunos, como é o caso da Iniciação Científica que muitos não têm conhecimento.
Em diversos momentos das falas dos alunos, quando se reportaram às dificuldades e possíveis melhorias das estruturas da universidade, identificamos uma vontade coletiva de que as políticas públicas e privadas fossem planejadas de forma mais ampliada, procurando abarcar as arestas que foram mencionadas considerando a diversidade de condições dos jovens brasileiros, que têm expectativa de ingressar ou que já estão na universidade.
“Acho que falta uma organização nesse sentido mesmo, de pensar possibilidades de trabalho, de estágio, eu não acho que tem que ser um privilégio, mas é uma condição material, tudo bem, a gente não tem acesso a bolsa (permanência) por meia hora, sei lá quantas horas no currículo. Acho também que nós não queremos nada de graça, mas precisamos nos sustentar, a gente que vem de fora, até você se adaptar a cidade, conseguir um emprego, eu não sei se universidade não tem algum projeto para pegar alunos de primeiro ano na iniciação científica, até como uma medida emergencial mesmo, até você conseguir um emprego, porque acho que a gente se vira mesmo” (L)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização deste trabalho teve como finalidade conhecer alguns dos aspectos (objetivos e subjetivos) da vulnerabilidade social dos alunos bolsistas PROUNI na PUC-SP Campus Monte Alegre, com o intuito de entender como essa vulnerabilidade se expressa na condução dos estudos destes alunos, identificando as possibilidades de aprimoramento do Programa para atender efetivamente as necessidades dos bolsistas PROUNI.
Ainda que através de pequena amostra, tivemos oportunidade de conhecer alguns aspectos que se relacionam à efetivação do PROUNI enquanto política pública que utiliza como estratégia de democratização do ensino superior no Brasil, a inclusão de jovens de baixa renda na universidade, especificamente em instituições privadas.
A exclusão da maioria dos jovens ao ensino superior público, se dá pela dificuldade para enfrentar os vestibulares, considerando o problema estrutural existente na educação de nível fundamental e médio das escolas públicas neste país. Essa realidade é enfrentada por aqueles que não tendo como pagar pela educação privada na formação básica, e não conseguindo por si mesmo acessar a universidade pública, recorrem às universidades privadas, seja pela realização do sonho de poderem cursar o ensino superior, seja pela oportunidade de conseguirem qualificar-se profissionalmente, visto que a educação parece ser um dos maiores mecanismos de mobilidade social e de valor da sociedade.
Mesmo que se considere a positividade do PROUNI, há que se observar que o ingresso na universidade, exige do aluno o enfrentamento de diversas dificuldades correlatas para a sua permanência no ensino superior privado e que sem o apoio de políticas públicas e da universidade, no sentido de respaldá-lo no atendimento de suas necessidades até a conclusão do curso. Concorrem para a manutenção dos bolsistas na universidade somente o apoio familiar ou da rede de amigos, que realizam verdadeiros esforços, financeiros e emocionais, para viabilizar a conclusão dos estudos destes alunos.
O desafio que se apresenta, além da necessidade de ampliar a construção de universidades públicas para o atendimento efetivo de jovens no ensino superior, segue na direção do aprimoramento do PROUNI nas instituições privadas, visando maior acolhimento, a sensibilização da convivência diversa nos espaços da universidade e o acompanhamento dos alunos em suas trajetórias na universidade. Isto no sentido de valorizar a troca de experiências entre alunos de contextos e potencialidades diferentes, ressaltando que este movimento não desqualifica o ensino superior privado, mas ao contrário, contribui com a formação profissional e pessoal de todos os jovens brasileiros.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
AMBRAMOWAY, Mirian, ET. Al. Juventude, Violência e Vulnerabilidade Social na América Latina; Desafios para políticas Públicas. Brasília. UNESCO. BID. 2002.192 e.
COSTA, Fabiana de Souza. Políticas Públicas de Educação Superior – Programa Universidade Para Todos: Um olhar dos alunos beneficiários na PUC-SP. São Paulo, 2008.
CUNHA, Maria Amélia de Almeida. O Conceito Capital Cultural em Pierre Bourdieu e a Herança Etnográfica.PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 25, n. 2, 503-524, jul./dez. 2007.
FERREIRA, M.L.R. (1997). A dinâmica da razão na filosofia de Espinosa. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian/Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica.
MICHALISZYN, Mario Sergio e TAMASINI, Ricardo, Pesquisa Orientações e Normas para Elaboração de Projetos, Monografias e Artigos Científicos. Ed. Vozes, 5º Edição, Petrópolis, RJ, 2009.
RODRIGUES, Maria Lúcia. Inclusão e Exclusão Social: semeando um paralelo entre a perspectiva da complexidade e uma leitura sociológica in Estudos de Complexidade 3, Cleide Almeida e Izabel Petraglia (orgs.), Ed. Xamã, São Paulo, 2009.
SAWAIA, Bader (Orgs.). As artimanhas da exclusão: Análise psicossocial e ética da desigualdade social. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
SILVA, Algéria Varela da. Vulnerabilidade Social e suas Conseqüências: O Contexto Educacional da Juventude na Região Metropolitana de Natal. Maceió, 2007.
Sites Pesquisados:
ANEXO A
Roteiro: Grupo de Reflexão - Alunos PROUNI em Situação Vulnerabilidade Social
Apresentação dos pesquisadores presentes e do objetivo pesquisa Apresentação pessoal dos alunos presentes: nome, idade, sexo, bairro e cidade onde reside, curso e o tipo de bolsa (integral ou parcial). 1. Você é o primeiro membro de sua família a ter acesso ao Ensino Superior? (em caso de resposta negativa, perguntar quantas pessoas de sua família, além dele, estão cursando ou cursaram o Ensino Superior?)
2. Como foi sua trajetória educacional até ingressar na Faculdade?
3. Porque escolheu esta Universidade?
4. Você se sente discriminado ou encontra dificuldades no ambiente acadêmico por ser bolsista do PROUNI?
5. O ingresso na Universidade lhe propiciou alguma alteração em sua atividade profissional? Como você avalia isso?
6. E nas relações pessoais, houve alguma alteração?
7. Como você avalia seu desempenho na Faculdade?
8. Você se sente motivado a cursar o Ensino Superior? Como se dá o apoio familiar para este desafio?
9. Você conhece alunos que desistiram do curso superior, mesmo sendo beneficiário do PROUNI, por não possuírem condições materiais ou afetivas para manterem-se na Faculdade?
10. Qual sua percepção sobre o direito ao Ensino Superior no Brasil? O PROUNI contempla e/ou atende suas expectativas? Por quê?
11. Você gostaria de dar alguma sugestão para o aprimoramento da atuação da PUC SP no acolhimento dos alunos bolsistas do PROUNI?
ANEXO B
Depoimento dos alunos bolsistas do PROUNI que participaram do Grupo de Reflexão realizado na PUC-SP Campus Monte Alegre no dia 11/06/2010, às 18h00min, sala do Observatório da Educação Subsolo do Prédio Novo.
A SINGULARIDADE
“A minha dificuldade às vezes é de troca intelectual, por que as pessoas não têm leitura, não tem vocabulário, não tem leitura, nem a juvenil, mas eu vi que isso estava na singularidade, é uma vivência minha.” (E)
AS DIFERENÇAS SOCIOCULTURAIS
“São pessoas que fizeram coisas que eu não fiz como ir para o exterior, então elas trazem conhecimentos de outra ordem, do idioma” (E)
“Ah às vezes os amigos chamam assim, ah vamos lá, na balada, lá não sei onde, é só R$ 25 reais, open bar(risos), é barato assim se for ver, os preços das coisas, mas tipo não dá pra ir, aí você pensa, gastar R$ 25 reais em um dia, é muito dinheiro, daí você não tira xerox, fica alguns dias sem comer.” (C)
“É o xerox de algum tempo, assim, aí tem outra coisa também, quase todos eles tem carro, a gente não tem, não é simples assim ir a uma festa num sítio, (risos).” (L)
“É um contexto que é diferente, a gente pode se relacionar muito bem com os outros estudantes e tal, mas a gente tem uma vivência que é diferente.” (L)
A UNIVERSIDADE E O COTIDIANO VULNERÁVEL
“Eu achei algumas dificuldades, na questão, por exemplo, este curso não é feito e não é pensado para pessoas que precisam trabalhar, quando eu entrei, eu trabalhava há 4 anos, ainda cheguei a trabalhar 3 anos, mas tive que mudar, porque eu fazia integral manhã e tarde e trabalhava da 17h até às 23h, assim, muita dificuldade de você conseguir mudar uma matéria, ter que fazer muitas coisas, não é feito sabe, é feito numa direção, não é pensado na verdade, é pensado para uma classe que não tem necessidade de trabalhar, tem disponibilidade de comprar material e livro devido a demanda, o tanto que se pede, e não tem como você dar conta sem trabalhar, de comprar os livros, essas coisas, no caso eu tinha que trabalhar para comprar os livros, pagar a condução, porque não é só a faculdade tem muito mais encargos que você tem para viver.” (R)
“Eu tentei o PROUNI especificamente pra tentar este curso aqui, e aí quando eu consegui acho que foi uma grande questão que eu vivi no começo, de pensar, nossa eu vim pra cá por que eu achava que eu tinha o direito de estudar em uma universidade boa, de fazer um bom curso e aí eu me deparei com uma situação super difícil, que é muito caro morar aqui em São Paulo, é muito diferente morar aqui do que morar em uma cidade do interior, eu tive que mudar matérias, eu fazia o curso vespertino noturno, tive que mudar do integral pra estudar a noite, e foi muito difícil” (L)
“Foi muito difícil porque eu trabalhava em um abrigo a noite e saía de casa num dia de manhã, passava o dia na PUC, porque eu tinha equivalências pra cumprir, então tinha que passar o dia inteiro aqui, ia trabalhar e voltava pra cá e só então eu ia pra casa, e eu me questionava muito sobre até que ponto existe esse direito a educação, porque foi uma fase muito, muito difícil pra mim, fisicamente, e aí tem todos os outros aspectos, porque você tem um vida afetiva, na época eu namorava, meu namorado era de fora, então era super complicado, com essa vida também eu não tinha muito tempo, então você deixa de viver muitas coisas fora da faculdade, quando você tem folga um dia sim outro dia não, tem que fazer todas as leituras que a PUC exige, você deixa de fazer muitas coisas, então você deixa de ir ao cinema, você deixa de sair com seus amigos, então você deixa de fazer muitas coisas.” (L)
“Iniciação Científica, sabe eu nunca pude, ou ir a Congressos, ou eu não podia porque estava trabalhando ou eu tinha tempo, mas não estava trabalhando, logo eu não tinha dinheiro, que é sempre este problema, é bem complicado.” (L)
O PROGRAMA E O COMPLEMENTO DE BOLSA
“Não. Teoricamente a gente tem, mas parece que faltam algumas horas assim, a faculdade de psicologia já discutiu um pouco isso, se eles iam, sei lá colocar uma quantidade x a mais de horas no estágio pra ver se conseguia mudar lá no MEC, mas aí como é uma mudança que implica em uma mudança de currículo, não é uma coisa simples de se fazer, então é meia hora, mas não é algo simples de ser feito simplesmente para poder atender a demanda dos alunos PROUNI, é uma questão complicada.” (L)
AS MEDIAÇÕES NA FACULDADE
“Eu achei que os professores, em particular, foram muito companheiros, me ajudaram muito, porque era uma mudança que eu não podia fazer oficialmente na época, meu pai estava desempregado se eu não trabalhasse eu não teria como sobreviver, assim, então eu precisei muito disso, eu acho que eu tive um apoio acho que a direção da faculdade na época”(L)
O SONHO
“Eu comecei a fazer faculdade em Mato Grosso do Sul na Federal de lá, só que o curso era muito ruim, era até mais viável para mim ficar lá, pela questão do custo era mais barato morar lá, enfim, e tinha algumas pessoas que eu já conhecia, era mais fácil para eu sobreviver por lá, mais aí eu fiquei dois anos e meio, e o curso era muito, muito fraco, e aí eu descobri que a psicologia da PUC oferecia um bom curso e tentei a bolsa” (L)
O SIMBÓLICO
“Eu nunca tive problemas para relacionar com as pessoas aqui, eu tive sorte, enfim, de encontrar pessoas legais e tal, mas as pessoas não entendem muito isso, porque são universos diferentes, então eles me chamam pra ir aqui e ali e tal e eu não posso.” (L)
“Quer ver um que aparece muito até discutindo com as pessoas do PROUNI, assim principalmente quando eu entrei, as pessoas chegavam assim no começo do semestre, ah você veio da onde? Ah minhas férias eu passei na Espanha, aí eu, mas eu nem saí de casa eu passei trabalhando as férias.” (R)
“Ah, você vai viajar no feriado? Ah, eu vou pra casa dos meus pais, ah, não porque eu vou para Nova Iorque, enfim, são planos que são diferentes, até mesmo em Congressos, que as pessoas tem condição de pagar um Congresso que é na Bahia, um Congresso que é no Rio de Janeiro, a gente não tem, ou cursos e eu acho que a gente também gostaria de poder participar dessas coisas” (L)
A AUSÊNCIA DE ACOMPANHAMENTO NA INSTITUIÇÃO
“Isso também até na questão, não do lazer, mas de estágio, quem faz estágio, é muito complicado, ter um estágio na zona sul e tem outro na zona norte, você tem que e virar pra ir, e o estágio acaba às 16h e tem que estar na PUC 16h20min, que começa a aula, não é pensado logisticamente.” (R)
“Eu acho assim para quem tem carro ainda da até pra se virar bem, agora a gente que depende de transporte público, a gente precisa de um tempo maior, assim, e você vê que eles não planejaram isso pra quem vai se deslocar de transporte público, foi pensado para alguém que vai chegar em meia hora porque vem de carro.” (L)
A DIALÉTICA: EXCLUSÃO E INCLUSÃO SOCIAL
“A diferença social na sala de aula no aproveitamento do ensino, quando os alunos se colocam, às vezes surge debates de cunho social, você vai falar de uma sociedade, como se essa sociedade não estivesse aqui dentro da faculdade, ela estivesse lá fora, como se a gente estivesse numa bolha e está falando de uma realidade lá fora, aí a gente escuta essa pessoa, e até de professor que na maior das boas intenções, e porque o professor também esta convivendo com estas gerações, até a geração dos pais do professor, enfim, que é dessa classe social diferente, que não sabe, não conhece, mesmo, as mesmas dificuldades, então, já teve aulas de anatomia, por exemplo, e brincando falaram, olha aqui é Alphaville e foi descendo no esqueleto, aqui é a zona leste, aí eu disse, não vai chegar no meu bairro, pelo amor de Deus, (risos), sem que o humor vire uma blindagem, (alguns comentários sobre a falta de alunos negros na sala de aula, destacaram a presença de alguns imigrantes angolanos), ah mas eu vou ficar muito ativista, vou fazer da minha condição social um estandarte, toda vez que eu vou me colocar em sala de aula, eu vou me emocionar, aí eu fico, ah não mas vocês não entendem.” (E)
“É citado a escola pública, a pobreza, como se estivesse tão longe, nessa hora fica bem aguda a diferença, em relação aos professores, não que eles tenham uma atitude discriminatória, mas é o discurso deles, é um discurso que reflete também esses alunos.” (E)
“E é a realidade deles. Os professores falam sobre da realidade deles, eu me lembro que tinha uma professora, que dizia “os rostinhos da PUC eu reconheço eles em outro lugar, é o leitinho especial daqui, o rostinho da PUC é característico”, e eu pensava, mas e aí eu estudo aqui, e me perguntava, eu tenho esse rostinho, eu tomo esse leitinho, (risos), e a cara do pobre é como, a professora que falou isso nem imagina que eu fiz essa interpretação.” (L)
“Eu não sofri nenhuma discriminação, sempre contei para todo mundo que eu sou bolsista, bom, eles nem entendem muito, o que é isso, porque você conta que é bolsista e eles continuam te convidando para irem para as festas que custam R$ 50 reais, (risos), e são pessoas que sabem de mim, da minha vida, sabe, nunca me discriminou, mas nunca percebeu a diferença, e tem uma diferença, não que devam discriminar, não é isso que eu estou falando, mas assim, tem uma coisa, eles imaginam o pobre, lá longe passando fome, o nordestino que está longe, aquilo é pobreza, se uma pessoa chega aqui, eu não me considero uma pessoa anda mal vestida, então, ou alguma coisa assim, eles olham pra mim e ah, é uma pessoa normal, não é pobre, porque o pobre pra eles é estereotipado, e o fato deles estarem ali juntos comigo, meio que os impede de me perceberem como pobre, porque pra eles o pobre não está perto.” (L)
“É tido o pobre como miserável. Assim, a instituição tem convênio com a Brasilândia, as UBS de lá, e o pessoal vai lá e fala, nossa é muito longe a Brasilândia, é muito feio, e eu falo, eu moro lá, como é longe, aí o cara fala, eu demoro 45min de carro de lá, e eu falo, eu demoro 2 horas pra vir todo dia e não estou reclamando, do que você está reclamando, e eles falam você mora lá, e digo, moro há 5min da UBS que você está falando, e o pessoal, mas como, você tem roupa, você tem todos os dentes, e eu falo, não é assim também, é lógico que tem muita pobreza, muita carência no bairro, mas não é só isso.” (R)
“São pessoas, que fora ali daquele contexto de aula, são pessoas super doces, simpáticas, a gente brinca e conversa, troca dificuldades, troca experiências, sabe a menina ali que viajou a Europa inteira e têm 18 anos ela conversa comigo numa humanidade também, e eu na mesma humanidade, ali não nos distingui, nós duas estamos recebendo um conhecimento.” (E)
“Eu me sinto acrescentando, eu acho que eu enriqueço a faculdade mesmo, contribuo com o que eu trago de vida, de conhecimento e de disposição de viver, eu não estou só extraindo, eu estou trazendo, e o fato de ter uma bolsa, eu não estou pagando um real para estar aqui, ótimo, é perfeito, porque a minha família, meus avós, todo mundo pagou para eu estar aqui, foi uma mão de obra que trabalhou muito, hoje entendendo a lógica de impostos, então assim, eu paguei umas três faculdades, só eu paguei isso.” (E)
“Eu acho que a gente chega aqui, e tem que se virar com uma dupla jornada, porque a gente chega aqui e tem que estudar e tem que dar conta de tudo isso, eu não sei todos aqui, mas eu comecei a trabalhar cedo, assim, e aí você aprende como o mundo funciona diferente do coleguinha que fica pensando que pobre é só aquele que mora lá bem longe, a gente que é pobre, a gente tem contato com outras classes por meio do trabalho, meu primeiro emprego foi na Junta Comercial em Marília, primeiro como estagiária e depois me contrataram, você acaba tendo contato com outras classes, entende que não é só aquela realidade do seu bairro, mas que existem outras, e você aprende a se virar nesse meio, você aprende a linguagem deles e se apropria dela, e isso acaba se tornando seu também, e você aprende a trabalhar, a conseguir um emprego, aprende como é que faz pra se sustentar, você entra na faculdade e tem que estudar, a trabalhar e você dá conta disso, por conta das experiências precoces que nós temos, a gente tem que entrar no mercado de trabalho logo, assim, terminou ou não o ensino médio, chegou um momento que você tem que ajudar a sua família, você tem que construir um pouco isso, essa coisa de aprender a se virar, porque aqui você vê tem coleguinha que vai sair daqui e vai trabalhar no banco x , porque o tio, sei lá, isso não acontece com a gente,mas por outro lado a gente tem essa habilidade de conseguir também se inserir no mercado, a gente não vai entrar lá em cima, a gente vai ganhar menos, mesmo porque a gente não tem QI, mas a gente consegue, eu pelo menos acho que vou sair daqui bem informada, eu acho que eu tive pouco tempo para estudar, mas o tempo que eu tive eu estudei.” (L)
O TRABALHO
“Eu acho assim, até completando a fala do trabalho, existe um estranhamento, sempre que eu estou contando, tem uma disciplina que chama de interdisciplinar, faz a integração do grupo, aí eu falo, eu trabalho e estudo, aí todo mundo pergunta você trabalha, nossa, e como você faz, (risos). Na época eu estudava de manhã, aí eu falo, então que horas começa a aula, eu chego 7h aqui para ler o texto, aí eles falam, mas eu não consigo ler o texto, aí eu pergunto, o que vocês fazem à tarde, aí eles falam ah à tarde eu durmo e depois eu vou pra festa” (R)
“Outra coisa que não é pensado, bom quando eu entrei, eu já estava trabalhando há quatro anos, e pensava, acho que dá seis horas de trabalho, e aí no terceiro ano eu escuto a notícia que não existe mais integral manhã e tarde, agora é manhã, tarde e noite, eu falei e agora para eu trabalhar, a sorte é que eu tenho meu pai e minha mãe que estão me ajudando, e eu consegui a iniciação, que é pouco dinheiro mais ajuda na condução, nos livros e me pergunto, e se eu não tenho isso, eu tinha parado a faculdade no terceiro ano, e aí você pensa quatro anos, mais três são sete na empresa, eu era o mais velho de empresa já era para eu estar num cargo maior, tive que recusar várias propostas, porque eu fiz uma escolha, eu escolhi a faculdade, e são escolhas que você vê que pesam muito.” (R)
O CONTEXTO
O papel da religião
“Então eu não acredito que eu nasci capaz de chegar à universidade e todos os meus coleguinhas da escola pública que eu estudei que eram, sei lá, quase cem e só uns três ou quatro chegaram à universidade, e assim, que eu nasci com alguma coisa melhor do que eles e por isso eu estou aqui, eu não acho, eu acho que tem um contexto, eu estar aqui hoje diz respeito ao contexto onde eu cresci. Quando eu era criança, minha família era bastante religiosa, e a igreja tinha um braço progressista, a igreja católica, e meu pai ele participava das comunidades eclesiais de base, enfim, eu cresci um pouco neste meio, dentro da igreja a gente discutia algumas questões sociais, eu acho que me permitiu quando você fala dos livros, ali eu tive acesso aos primeiros livros, os primeiros textos. Eu acho que a religiosidade ela pode sim trazer um viés fechado e limitar a pessoa em alguns aspectos, mas para mim esse contexto foi favorável, porque eu tive a oportunidade de refletir sobre algumas questões que me fizeram pensar o meu lugar no mundo, sobre quem eu sou e o que eu quero fazer pelo outro, então qual vai ser meu posicionamento, eu aprendi que eu tenho que ter um posicionamento político, um posicionamento ético, e eu cresci até a adolescência, eu convivi com pessoas que refletiam essas dificuldades, me ofereciam alguns livros, e eu acho que eu atribuo a isso, tanto que a gente morava num bairro onde, até quando eu estudava naquela escola, acho que tinha três colegiais quando eu me formei no terceiro colegial, e acho que 3 ou 4 colegas chegaram na universidade, mas do grupo religioso que eu participava, 90% chegou a universidade.” (L)
Educação: um projeto de família
“Eu estudei em escola técnica, na Federal e depois curso técnico na Carlos de Campos, e eram escolas muito boas, tinha vestibulinho para entrar, era muito a cultura dos alunos estudarem sozinhos, se reunir para estudar, a maioria que estudaram lá está na USP agora, e antes eu estudava em escola particular, mas era bem difícil de pagar, nessa época meus pais tinham uma condição melhor, mas eles foram se endividando, aí minha avó que pagava até a oitava série, só que era muito difícil, tinha que renegociar todo final de ano, ai depois eu prestei a federal e entrei.” (C)
Um sonho individual
“E eu naquele contexto todo, quando eu tive meu primeiro livro, eu fiquei nossa, eu comecei ficar muito precoce, lendo , lendo e não tinha isso na minha família, que era muito de executar, de fazer coisas, eu tive uma educação muito proverbial, não faça isso se não aquilo, é um caminho que eu trilhei, de buscar minha educação, o meu caminho, era uma coisa minha, não era familiar, religião também não tinha, mas tinha muita liderança na minha família, então não tinha essa coisa dos livros, era mais uma família de arregaçar as mangas e fazer e eu busquei muito isso, a minha educação até aí foi tudo bem e nessa coisa de sempre fazer eu fui crescendo independente, eu comecei a trabalhar muito cedo, interrompia os estudos e voltava, tinha um bom estudo autodidata, mas interrompi, e o engraçado é que chegou uma época que me perguntavam, que faculdade você fez, e eu pensava, e agora esse negócio de faculdade é importante, às vezes eu contava umas mentirinhas, (risos), só pra vocês terem uma idéia, para fechar, meu segundo grau, o ensino médio, eu não conclui porque eu não concordei com o currículo, eu falei não está legal isso aqui, eu vou parar, e parei, e fui trabalhando, enfim, fiz minhas coisas, casei, tive minha filha e fui morar no nordeste, na Bahia, fiquei quatro anos no interior da Bahia, e lá fiz um monte de coisas, alfabetizava, fazia um monte de trabalho e o meu marido me disse, olha você está marcando bobeira, termina o ensino médio, e eu fui lá fazer uma prova, que lá tem um sistema que você faz uma prova e se for bem você conclui o ensino médio, aí eu tirei meu diploma, e fui trabalhar em uma ONG, eu estava lá e observei que as pessoas que tinham curso superior ganhavam bem mais, e trabalhavam muito pouco, (risos), e aí eu falei eu estou dando bobeira, vou estudar, mas aí eu pensei, só que agora eu posso escolher um curso, um sonho, porque se é pra ganhar dinheiro eu ganho, mas se é para estudar, vou realizar um sonho e fazer alguma coisa que eu gosto, que me acrescente como pessoa, por dinheiro eu venderia terreno, sei lá, por isso que eu escolhi esse curso e foi providencial entrar no Programa.” (E)
O impulso familiar
“Mas acho que muito da minha trajetória foi marcada pela minha família, porque a minha mãe engravidou quando ela estava na faculdade e depois não voltou mais, e meu pai fez só até a quarta série, só que eles sempre incentivaram a educação, mesmo meu pai não sabendo o que é educação, para ele a educação era para o emprego, porque tem muito dessa coisa, única coisa para o pobre ascender é através da educação. Então no meu bairro as escolas são muito ruins, minha mãe me colocou em outra escola, arrumou um endereço emprestado para tentar uma escola pública que era melhor, em outro bairro, ela dormiu a noite na fila com o endereço falso, e nisso eu fui estudar, mas a escola não era muito boa, pra ter idéia, mas era a melhor da zona norte, aí terminou e falei, bom vou ter que trabalhar agora, fiz curso técnico no Senai, mecânica geral, dava pra ter arrumado um emprego e estar ganhando hoje uns dois mil e quinhentos reais, mas eu falei não é isso que eu quero, arrumei um emprego de seis horas, pra estudar tem eu ser de seis horas, não dá para ser de oito horas, você não consegue, aí eu fui fazer cursinho, no primeiro não passei, no segundo também não, eu fiz quatro anos de cursinho, foi no cursinho que eu li meu primeiro livro de literatura, bem o Machado, no começo eu não entendi aquela ironia, aí comecei a ler outros, e comecei a gostar, sabe, e comecei perceber aquilo que meu pai e minha mãe falavam, de estudar para ter uma profissão, eu disse não, vou estudar muito mais pelo conhecimento, tanto que quando eu entrei, falavam em engenharia ou advocacia, eu disse, não vou fazer história ou psicologia, não necessariamente nessa ordem, aí consegui a psicologia aqui, que é melhor do que na USP, e fui fazendo e tinha que trabalhar, o que é uma dificuldade, aí o que você começa a fazer, tenta ler o que der na semana, e estuda no final de semana, enquanto todos os seus colegas estão saindo, assistindo televisão, você não pode, então perde na vida social.” (R)
A DESISITÊNCIA
“Eu conheci uma pessoa que desistiu para trabalhar, porque ele morava em uma cidade vizinha e era super longe para ele, aí ele conseguiu um emprego, não sei o que aconteceu com ele depois, mas a idéia era ele ficar trabalhando mais perto da casa dele e fazer uma universidade particular também lá perto, porque estava muito sofrido pra ele, que fazia uma viagem muito longa de trem.” (L)
“Eu conheço alguém que quase desistiu, foi um aluno que participou do meu TCC que é sobre o PROUNI, e ele contou que ele não conseguia aceitar a bolsa, assim, porque ele sempre trabalhou, era muito diferente, para ele era uma mudança de identidade muito grande, ele já bebia e usava drogas. No primeiro ano, ele falou que pensou até em perder a bolsa, mas aí o PAC ajudou e ele parou de usar e já está aí bem na frente.” (C)
“Já é muito difícil pra gente chegar até aqui, literalmente, não no percurso da trajetória de vida, mas estar aqui, agora eu moro aqui perto, mas antes eu ficava pensando e agora eu não tenho dinheiro pra ir todos os dias, antes de eu começar a trabalhar no meu primeiro emprego, eu estava numa fase bem difícil mesmo, assim, eu tinha que escolher que aula que eu podia faltar, porque eu não morava aqui perto e era muito difícil, é lógico que muita coisa mudou, não só porque eu trabalhei, mas o contexto da minha família mudou, mas a gente passa por alguns momentos difíceis, assim, e a gente passa isso sozinho.” (L)
“Quantas vezes no chuveiro vindo pra cá, eu pensei em desistir, porque falei, eu sou uma mulher que tenho uma filha de oito anos, e o pouco que eu consegui até agora eu posso por a perder, posso entrar numa situação muito difícil porque eu estou fazendo essa escolha de estudar, eu falei, mais uma vez vai me ser negado a possibilidade de estudar, antes porque eu tinha que trabalhar, eu tinha que fazer e acontecer, e agora eu posso e não posso ao mesmo tempo, sabe, eu te dou e te tiro, e aí é a minha margem de relacionamentos pessoais mesmo, conversando com as pessoas, vão dando força, se virando, no jeitinho ali, pra mudar minha cabeça, eu estou estudando para quê, para melhorar minha condição social, o que vai me trazer isso como engrandecimento, como felicidade, como pessoa, eu estou me matando, eu vou chegar toda frustrada, nervosa, amargurada, quantos relacionamentos eu desfiz, quantas úlceras eu contraí pra terminar esse curso, esse curso vai me custar quantos órgãos do meu corpo, quantos relacionamentos eu perdi por irritabilidade, entendeu, amanhã eu vou estar aí, e penso, certo vamos tentar mais esse semestre, e a gente vai tentando, pra ver se chega no final do ano e ufa.” (suspiros) (E)
AS PROPOSTAS
“É então isso do PAC, nem todo mundo sabe, não existe divulgação, (os outros comentam que não sabiam da existência do PAC), eles dão até bolsa para quem não tem dinheiro para comer, no restaurante, mas não é divulgado.” (C)
“Eu acho assim, quando eu tive a minha primeira reunião do PROUNI (refere-se à reunião realizada pela professora Ana Bock aos alunos do PROUNI), eu não venho de uma cultura assistencialista, mas eu acho que falta sim, até no próprio curso, uma coisa assim, que dê uma orientação profissional, falta organização, falta divulgação e esclarecimentos sobre iniciação científica, por exemplo, falta articulação entre as faculdades, não que mobilize de uma forma que seja só PROUNI, mas que crie uma rede de solidariedade para a organização das informações.” (E)
“Acho que falta uma organização nesse sentido mesmo, de pensar possibilidades de trabalho, de estágio, eu não acho que tem que ser um privilégio, mas é uma condição material, tudo bem, a gente não tem acesso a bolsa (permanência) por meia hora, sei lá quantas horas no currículo, mas eu acho também que nós não queremos nada de graça, mas precisamos nos sustentar, a gente que vem de fora, até você se adaptar a cidade, conseguir um emprego, eu não sei se universidade não tem algum projeto para pegar alunos de primeiro ano na iniciação científica, até como uma medida emergencial mesmo, até você conseguir um emprego, porque acho que a gente se vira mesmo, mas acho que a universidade deveria pensar uma forma de disponibilizar material, até mesmo a biblioteca, muito concorrida, você só pode pegar 5 livros, e tem prazo para devolver e não deu tempo para ler tudo.” (L)
“Só na psicologia que tem uma reunião, da Ana Bock até, com os alunos que é alguma organização, porque no TCC eu vi que a maioria dos cursos não tem isso, os alunos PROUNI não se conhecem, assim, para nós essas reuniões foram muito importantes.” (C)